segunda-feira, 16 de setembro de 2024

A conquista de Montecatini Alto – e põe alto nisso!

 

Sempre achei que para conhecer as entranhas de qualquer lugar é necessário explorar tudo a pé, combinando caminhadas vigorosas com meio de transporte público, quando a gente já deu tudo o que podia numa jornada ou, definitivamente, não há logística para cumprir o que havia sido planejado. Só assim mergulhamos na história do destino.

 

Estou em Montecatini Termi, Toscana, Itália. Minha amiga Anna Paula Guerra, que conhece o pedaço, escolheu a parada e achou um hotel vintage maravilhoso, estrategicamente posicionado – perto do centro e da estação, já que estou viajando de trem entre uma cidade e outra e exercendo atividade de arrastar mala em piso europeu enquanto tenho mobilidade para tal.

 

 

Em 1772 Montecatini iniciou a canalização das águas que a transformaria em estância termal. Foi frequentada por nobres e carrascos tipo Mussolini e tornou-se queridinha de famosos no final do século XIX — Giuseppe Verdi e Luigi Pirandello eram assíduos no local. Virou epicentro de decisões políticas e de grandes negócios, com seu parque de termas terapêuticas que ocupa espaço privilegiado aos pés da colina que dá acesso à cidade velha, Montecatini Alto.

 

E foi o rumo dela que tomei ontem. Depois de passagem pelo complexo termal, decadente por causa de intrigas judiciais e eternas reformas embargadas (só uma terma é aberta à visitação no inverno; as de propriedades terapêuticas só a partir de março), resolvi vencer a pé a subida, já que o funicular também está em reparo. O Google Maps me avisou que seriam quatro quilômetros de subida, mas não contou os inconvenientes.

 

Foi mole não. O percurso tem trechos sem espaço para pedestre. Curva, é uma atrás da outra montanha acima; os agasalhos já começaram a incomodar e o suor a descer pelas costas. O rapaz que conduzia a Panda da Poste Italiane me saudava nos encontros. Os ciclistas se solidarizavam e mandavam um grito de guerra. E assim foi. Desistir não era alternativa.

 

Quando pensei ter alcançado o pico da cidade, a torre do relógio estava bem mais acima. Escalei gloriosamente mais uma avantajada escadaria, conheci a região, apreciei a vista, tomei um cappuccino. Na preparação para a descida, no ponto de ônibus só havia alternativa de adquirir bilhete pelo app da companhia de autobus, que não funcionou.

 

 

Quando chegou com sua Van, contei a história para Giorgio – tem sempre um Giorgio me salvando – que reclamou do sistema e disse que me levaria ladeira abaixo sem passagem e avisaria caso notasse a presença de fiscalização. Descida tensa, com o simpático motorista conduzindo pelo lado do abismo e vendo vídeos do YouTube. Cheguei sã, salva e morta de cansaço. Refestelei-me com uma pasta banhada em pomarola de quatro tomates, stracciatella e um copo de rosso da Toscana. E muita generosidade de Pecorino.

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Este post foi escrito por: Britz Lopes

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