terça-feira, 16 de setembro de 2025

Entre o Alto Minho e Quixeramobim

 

Marcio Fernandes – O sol estridente da manhã de segunda-feira em Ponte da Barca (Portugal) me fez acordar com enorme entusiasmo verde-amarelo, na melhor linha “eu te amo meu Brasil.” Bateu aquela saudade imensa do delicioso biscoito de queijo em forma de orelha que minha mãe fazia com chá de canela colhida no pé da casa de minha avó.

 

A noite anterior foi uma sequência de pesadelos em três atos. No primeiro, estava na batalha de Alcácer-Quivir, ocorrida rm 1578, a lutar contra os sarracenos em nome do Rei Dom Sebastião, o Encoberto. O segundo foi um emaranhado de pavor por eu não ter me aposentado. O derradeiro me fez acordar suado na madrugada sob o cobertor, por conta de certa palestra com meu irmão que morreu há 11 anos.

 

Apesar da recaída brasiliana não há a menor chance de eu me tornar um patriota. Acredito ser completamente falacioso o amor ao Tapiocão Tabajara propagado pelo bolsonarismo, bem como o neopatriotismo lulopetista provocado pelo tarifaço de Trump. O patriota, em um país de quinto mundo, é um oportunista exemplar que faz fortuna em uma única geração ao realizar bons negócios com o Estado.

 

Em geral, o patriota brasileiro é um especialista em licitações fraudulentas e extraordinário pagador de propinas a políticos trajados em terno gosmento. Falso moralista, analfabeto funcional, ele é incapaz de saber do que se trata a fotossíntese e a função do Teorema de Pitágoras, além de tropeçar no hino nacional na parte que se refere ao “lábaro que ostentas estrelado.” Pior são os patriotas da esquerda a cantar a composição escrita por Joaquim Osório Duque-Estrada em linguagem neutra.

 

De ignorância espontânea, ele acha que o verde da bandeira representa as nossas incomensuráveis florestas, quando a cor é o traço singular da Casa Real dos Bragança que nos governou de 1822 até ao golpe de Estado dado pelos militares contra Dom Pedro II.

 

Ninguém dedicou tanto amor ao Brasil quanto o último imperador. Era mais culto do que FHC, mais empreendedor do que JK e certamente desprezaria, com a educação de um frade franciscano, as vulgaridades cotodianas do Lula. Jamais empregaria a linguagem chula do néscio antissemita.

 

O brasileiro de esquerda acha que a incompetência inata do Brasil deve ser tributada ao imperalismo americano. O ignorante de direita, portador do diploma de ensino superior incompleto, culpa o colonizador português pelo nosso atraso civilizacional.

 

É muito fácil desviar a atenção e atribuir a entidades imateriais a nossa incapacidade de resolver os problemas de infraestrutura, pobreza, corrupção e culto geral à ilegalidade.

 

O Brasil não dá certo por ser movido pela predominância das relações pessoais sobre o interesse público, matéria que o antropólogo Roberto DaMatta estudou a fundo. Não é o jeitinho o nosso principal pecado. Na verdade, o que consagra a impunidade no Brasil é a resposta pronta do “eu não tive culpa”. É claro que teve.

 

Culpa é a consequência do erro e tem desdobramentos na responsabilidade civil. O agir deliberamente para se obter um resultado ilegal é o dolo tipificado como delito no Código Penal. Como o crime compensa no Brasil, um traficante e latrocida é 89 vezes detido pela PM e não acontece nada. Naturalmente é liberado por um magistrado, cheio de penduricalhos no contracheque, em audiência de custódia.

 

Os apadeutas de cabelo azul que furam o sinal vermelho e atropelam pessoas na faixa de pedestre protestam contra Israel por combater os terroristas do Hamas, mas omitem criminosamente os dados oficiais dos mais de 40 mil homicídios cometidos no Bananal Delituoso.

 

O Brasil é um país movido pela dissimulação. Parace ser manso e pacífico quando na verdade é regido por extremos e extremamente violento. Falta muito pouco para ser condenado pelo STF quem chama o criado mudo de criado mudo. Sempre teve esse nome, mas agora inventaram que a peça ao lado da cama tem conotação racista.

 

Eu queria que me dessem um motivo para eu ser obrigado a reverenciar a pseudo indígena, ministra Sônia Guajajara, adornada com arte plumária de tribo americana. De igual forma, por qual razão eu devo consumir o lixo cultural de um cantor de funk afiliado a facção criminosa e achar que são lindas as paisagens das favelas?

 

O Brasil é um país racista e os negros sempre foram humilhados por uma elite esnobe e atrasada. Agora, não me parece correto sonegar a contribuição dos brancos. Eles nos deram a maravilhosa obra da miscigenação, a viola, o porco piau, a picanha, o sorvete baunilha, o espelho, as janelas, o prato, o queijo, a faca, a colher e o garfo, entre outras coisas fundamentais. Aque só tinha farinha de mandioca e olhe lá.

 

Foi por conta desta extraordinária obra da portugalidade que a Janja, legítima caiçara, pode desfilar em comício do MST com bolsa Dolce&Gabbana. Cada vez mais a primeira-dama forma um par de vasos com a deputada Érika Hilton, conhecida como Shakira wanna be, por ter o mesmo cabelo louro de farmácia e a breguice própria da esquerda caviar com catupiry.

 

As duas torram com força e vontade o dinheiro do pagador de impostos como se não houvesse amanhã. Antes que o país acabe, se não der para morar no Alto Minho, vou me mudar para Quixeramobim. Não pode ser ruim um lugar com nome tão gostoso.

 

Marcio Fernandes é jornalista

Este post foi escrito por: Marcio Fernandes

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