quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Já tenho CPF português

 

Marcio Fernandes  —  Como é bom se sentir pagador oficial de impostos na Europa. O nome do bicho, na verdade, é Número de Identificação Fiscal (NIF). Agora já posso contratar o caminhão de mudança e despachar colchão amarrado, micro-ondas com defeito e papagaio. Hoje o dia começou da melhor forma possível. Acordei em cama boa, tomei régio café da manhã, mochila muito bem arrumada, aquele poder do pensamento positivo ativado até que, por menos de 10 segundos, perdi o trem na Estação de Aveiro. Devia ter organizado La Madrasta II ontem à noite, mas preferi tomar vinho do Dão quase padrão do General e ficar pregado no WhatsApp trocando platitudes. Ficou a lição: faça as coisas nas calminhas pero no mucho, caraca!

 

 

Ué, acabou que deu certo e meia hora depois estava na minha proa sacolejando em trem velho e não exatamente limpinho. Atenção estimado CEO da estatal de Comboios Portugueses. Vamos melhorar a situação da Felipa, vendedora de passagem da estação. Começar o dia de mau humor não é bom para esta sensacional empresa pública da qual desde ontem tenho interesse de contribuinte. Se não der para atender imediatamente as reivindicações da moça, talvez fosse importante contratar um coach de rapariga, na acepção portuguesa da palavra, com visão quântica do sistema e premiar o desempenho do pessoal com viagem gratuita a Codó, no Maranhão. Ela tratou muito mal uma californiana que pediu informação. Acabou que tive de fazer o serviço da moça em atividade não remunerada. Sou magrelo esfomeado comendo pizza de fatia em euro. Como dizia o Falcão Azul, positivamente assim Não Dá Bionicão!

 

 

Meu extraordinário amigo Aloysio diz que todo dia acordam um malandro e um otário. Mesmo sem encontro agendado vão se ver antes das 18 horas. Observei ontem a cena na Estação de Lisboa. Um mala vendendo perfume falsificado, supostamente feito com especiarias do Monte Atlas, no Marrocos, abordou três caras até que encontrou a vítima ideal. Um bicho meio alemão ou tcheco que de longe cheirava a baixeiro velho. Não dos aromas de vinho, mas da falta de banho ensaboado. Morreu em 12 euros. Vagabundo não se aproxima de mochileiro pois tem em mente aquela frase do Barão de Itararé: “De onde menos se espera, daí é que não sai nada!” Depois, em meu arcabouço pessoal não há espaço para conversa com desocupados.

 

Houve certa revolta do pessoal por eu ter chamado criado-mudo de criado-mudo. Vou trabalhar a melhoria do vocabulário. Por outro lado, o móvel do quarto não reclamou do tratamento. Outra coisa. Meu médico particular enviou mensagem dizendo que omiti de mencionar os efeitos colaterais do corticoide em mulheres românticas em situação vulnerável. Está feito o registro. O pessoal que se enquadra na situação, por favor, evite o medicamento.
Em razão do balanço do trem, a música do dia é Dançar Pra Não Dançar de Rita Lee!

 

Marcio Fernandes é jornalista

 

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Este post foi escrito por: Marcio Fernandes

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