quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Como me tornei uma mulher do agronegócio

 

Hulda Morais  —  Há doze anos resolvi que deveria mudar a direção do trabalho que estava desenvolvendo, aplicando a educação formal adquirida. Isso após ver os meus filhos alçarem vôo do ninho, já com suas vidas programadas. A eles dediquei como prioridade a minha juventude e vida adulta. Embora gostasse da advocacia (e ainda gosto) pretendia realizar algo diferente para esta etapa da vida, mas que me permitisse continuar financeiramente independente.

Outra coisa que sempre gostei é da política (cheguei a cursar alguns semestres de Ciência Política), em especial, a política para as mulheres. Acredito que há muito a ser realizado por pessoas responsáveis e comprometidas, via representantes que consideram as mulheres como prioridade em seus argumentos e em questões de políticas públicas. Apesar da maioria do eleitorado ser composto por mulheres, sempre somos consideradas apenas na hora da batalha pelo voto. Depois das eleições, somos esquecidas. Isso acontece porque os valores que as mulheres merecem são questionados de maneira negativa. É resultado também do costume patriarcal de nossa região.

Trabalhar com política me concedeu muitas alegrias e conquistas. Uma delas foi constatar o quão importante é impulsionar as mulheres para que elas reconheçam seu valor e busquem propósito para o que desejarem da vida. Além disso, “conhece-se a alma de um povo pela maneira que tratam as mulheres e os necessitados de um país”.

A conclusão de que deveria mudar a direção da minha atuação teve início com a morte de minha amada mãe, há dezoito anos. Uma mulher forte, corajosa e guerreira, que viveu além de seu tempo. Ela me deixou um patrimônio no qual vi a possibilidade de desenvolver o meu próximo foco.

 

Decidi trabalhar com pecuária; especificamente pecuária de corte no segmento com as crias. No início não foi uma tarefa fácil, porém, entendi que havia em mim uma enorme vocação e paixão pelo agronegócio que ainda não conhecia. Talvez pela convivência com meus avós, pais, tios, que sempre deram grande importância a esse propósito e por testemunhar que, para eles, era a melhor forma de preservar o patrimônio e impulsioná-lo, através do trabalho, outros rumos e profissões para os filhos.

Aos poucos, fui adquirindo experiência e maturidade nos negócios e entendi que posso demonstrar para uma nova geração de mulheres que o agronegócio não é uma profissão eminentemente de homens, embora muitos nos julgam sem capacidade para geri-lo. A mulher que exerce a função de esposa e mãe já é qualificada para administrar qualquer negócio.

Iniciei o trabalho na fazenda cuidando das forrageiras e novas divisões dos pastos. Comprava as matrizes sem muita noção sobre genética, mas, aos poucos, fui aprendendo a escolher, vender e comprar bezerros e definir melhor quais eram os reprodutores e matrizes para se ter um bom resultado.

Passei a ler e estudar o assunto através de cursos no Senar, faculdades especializadas, participar de seminários com especialistas e hoje estou cursando um MBA no ramo de gado de corte. O que vivenciei com as experiências dos meus pais e no aprendizado de novas tecnologias têm impulsionado o negócio a ponto de alertar os jovens que tem esse legado para que não pensem que são apenas herdeiros de um patrimônio de terras. Mas, considerem a oportunidade oferecida para se tornarem sucessores de uma profissão que tem sido o “carro chefe” do PIB brasileiro. Além de ser produtivo, ajuda a construir pilares para outros negócios.

 

Texto escrito pela empresária Hulda Morais

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Este post foi escrito por: Britz Lopes

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