Com nanismo, mas gigante em desafios
Coração acelerado, pernas inquietas e na cabeça o filme de uma vida inteira de sonhos. Jéssica Muniz, bailarina, subiu por três vezes nos palcos abertos da 40ª edição do Festival de Dança de Joinville, Em Santa Catarina, considerado o maior do mundo pelo Guinness Book. “Lembrei de quando eu ouvia que meus pés não serviriam na sapatilha de ponta e que o balé não era pra mim. E, ao mesmo tempo, me percebi merecedora dessa conquista”, comemorou Jéssica, que nasceu com acondroplasia, o tipo mais comum de nanismo, e muitos objetivos de vida.
O festival segue até o dia 29 de julho com apresentações de 13 mil dançarinos. No total, os artistas viajam de 25 estados, além de países como Estados Unidos, França e Paraguai para participar do evento. Entre dançarinos e visitantes, a organização espera receber mais de 230 mil pessoas nos 12 dias de festival. Além da Mostra Competitiva, que é a tradicional competição dividida em categorias, o festival conta com os palcos abertos que ficam em diversos pontos de Joinville e região e recebem coreografias inscritas e selecionadas.
Jéssica foi uma das dançarinas a subir nos palcos abertos. Ela se apresentou na Feira da Sapatilha, no Jardim da Dança e no Shopping Garten. A bailarina já está com saudade. “Indo embora, mas com vontade de ficar. É tudo um grande sonho”. Ela entrou de corpo e alma nas apresentações com a coreografia “Além do Universo”, uma junção de memória, sentimento e talento. “Faz um ano que minha avó faleceu e tínhamos uma coreografia juntas chamada Girassol. Quando resolvi montar essa, eu queria sentir a presença dela de alguma forma, me protegendo e abençoando. E também porque a vida vai muito além daqui. Fomos escolhidos para estar aqui, devemos aproveitar cada minuto”, afirmou Jéssica.
A moradora de Ananindeua (PA) e professora de dança para crianças de 4 a 12 anos espera voltar no próximo ano, mas para competir. “As disputas exigem muito treinamento e muita disciplina. Vou me esforçar pra isso. Pra chegar lá preparada e pronta pra levar medalhas para minha cidade”, disse Jéssica ao ressaltar que o festival ainda não conta com uma categoria para Pessoas com Deficiência (PCD). Atualmente, os bailarinos com deficiência disputam com todos os inscritos. “A gente se sentiria melhor abraçado e teríamos nosso esforço reconhecido”.
O Festival de Dança de Joinville conta com a ‘Mostra Dança para Todos’, que é um evento não competitivo voltado para pessoas com deficiência. De acordo com o presidente do Instituto Festival de Dança de Joinville, Ely Diniz, no palco principal da competição, o que prevalece é a questão da qualidade técnico artística e que a participação de pessoas com deficiência geralmente acontece quando há um integrante com deficiência em uma coreografia de grupo, mas a inserção de uma categoria específica a esse público ainda não foi avaliada.
A estrutura do prédio que sedia as competições possui adaptações para receber pessoas com deficiência como rampas de acesso e ampliações de locais para quem vai assistir. Há também camarotes com audiodescrição. Essa necessidade de inclusão e acessibilidade veio com a mudança no cenário do ballet e da arte de forma geral. “O ballet sempre foi elitista, mas estamos percebendo a abrangência de bailarinos capacitados e de todas as condições financeiras e isso graças a muitas entidades públicas e particulares que abrem espaços. Consideramos que hoje o festival é plural, mas podemos sempre ir além”.
Com Catherine Moraes da Conceito Comunicação