Namorido, uma forma contemporânea de relacionamento
Hiram Souza — “Ele é meu namorido ela disse.” À medida que vou vivendo, vou presenciando fatos novos que eram absolutamente improváveis há poucos anos atrás, mas louvo o novo estilo contemporâneo das novas mulheres antigas. Dia desses em um evento, deparei com uma amiga das antigas com quem dividi ideias profissionais nos velhos tempos em que a comunicação era através de jornais, rádios, outdoors e televisão. Ainda não havia internet e nem redes sociais.
Ela, representante da geração 40/50, tempo em que as mulheres que se separavam ou ficavam viúvas, morriam em casa fazendo crochê ou cuidando dos netos. Um horror. As que se separavam, eram evitadas nas mesmas rodas em que até pouco tempo frequentavam, e as viúvas, ahhh! Essas quase viravam carpideiras, pelo status ou por solidariedade às amigas.
Mas o reencontro com minha amiga foi saudoso e efusivo pelos anos que não nos víamos, e foi então que ela me apresentou o seu “namorido”. Tudo bem que ela sempre foi como diríamos antigamente “pra frentex”. Mas foi nesse instante que conheci o termo namorido, acompanhado de um coroa bem-apanhado, já de cabelos brancos, que estava de acompanhante da jovem senhora. E, segundo ela, não era só naquele dia.
A partir daí comecei a pensar no assunto do lado de cá, ou seja, do lado masculino. Nós não temos um termo que defina essa nova relação, afinal a medicina tem nos dados um bom prolongamento de vida com qualidade, claro que sempre acompanhado de visitas regulares ao médico, exercícios e outros conselhos que afirmam serem úteis. Conselho dos médicos e dos filhos.
Pensando no assunto, e o faço porque, durante boa parte da minha vida trabalhei com comunicação buscando nomes para produtos, ações empresariais etc. Tenho tentado achar um nome para essa nova relação, para as pessoas que, segundo as redes de farmácias, representam a “melhor idade”, pra eles sem dúvida.
Mas, voltando à minha tentativa, fiz alguns exercícios, e todos ficaram muito ruins: “namoposa, namomulher, namopatroa” como dá pra ver ficou grosseiro mesmo, nada que eu consegui, tem o suave som do namorido. Que é a junção de namorado, que remete à tempos idos e de saudosa memória, além de muito romântico, e de marido, que segundo minha amiga, traz uma relação de fidelidade, respeito e lealdade. Confesso a vocês que estou com uma inveja danada, da competência criativa delas para definir esse novo padrão de relacionamento muito compatível com o momento em que vivemos.
Muito interessante também são os números que esse status de namorido traz. Sei que os namoridos são muito bem recebidos nas lojas de departamento, nas imobiliárias, enfim são velhos novos consumidores. Mas, o mais importante, foi a visão delas sobre esse processo de relacionamento. Não me perguntem como foi o evento, perdeu-se na conversa e na garrafa de espumante que consumimos. Papo vai, papo vem, ela me apresentou uma série de verdades, as quais acabei descobrindo, que comungam com o que penso e concordo.
Disse ela, “Hiram, é diferente quando você se casa com 25/30 anos, tem filhos, tem marido que está muito preocupado em crescer, ganhar dinheiro construir uma carreira, ainda tem a casa, escola, notas escolares dos filhos etc etc. Hoje com os filhos criados, cada um tem a sua própria vida e seus problemas. Podemos ajudar? Ajudamos. Mas não são mais nossos os problemas diários como eram antigamente. Hoje temos tempo, temos saúde e estamos analisando o quanto temos de futuro. Assim, a vida fica muito mais leve e divertida, temos mais tempo para namorar e curtir o que nos resta de vida saudável. A propósito: “Não tem mais filho entrando direto no meu quarto a noite!” Baita lição!
Mas, se alguém achar um bom nome para essa nova relação ajude, eu ainda estou tentando.