quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

A ética que nos falta

 

Hiram Souza — Dia desses alguém me mandou um vídeo do jornalista Mario Motta falando sobre ética. A forma com que ele descreveu o que é ética e suas nuances me fez pensar sobre o assunto, o que me levou imediatamente a perceber que talvez, pelos exemplos que recebemos, somos um povo com pouca ética.

 

Segundo o jornalista “ética é a obediência ao que não é obrigatório.” Gente, isso é de uma clareza fantástica. Ética é aquilo que a gente aprende em casa com os mais velhos sem necessariamente usar esse rótulo. Penso que se ética fosse uma matéria ensinada nas escolas não seria necessária uma Constituição com 245 artigos. A Constituição americana, por exemplo, tem somente 7 artigos.

 

Isso quer dizer que eles são mais éticos que nós? Não necessariamente, mas os exemplos que eles recebem, sobretudo das autoridades, são melhores que os nossos. Lá, membros da Suprema Corte se declaram impedidos de atuar em questões que envolvam parentes ou interesses.

 

Infelizmente por aqui essa atitude não é seguida. Mas o objetivo deste artigo não é comparar a sociedade americana com a nossa, mas discutir por que será que eles e suas autoridades são mais bem providos de ética do que nós? Honestamente, creio que é um processo de exemplos. Assim como em casa nossos pais nos deram exemplos a serem seguidos, era de se esperar que as autoridades constituídas também nos dessem bons exemplos. Mas lamentavelmente, de uns tempos para cá, nossas autoridades têm sistematicamente perdido a oportunidade para dar exemplos à sociedade.

 

O povo brasileiro recebe diariamente maus exemplos de nossas autoridades, maus exemplos do executivo, do legislativo e pasmem, da justiça. Creio que o mais grave é a justiça. Quando a justiça é procurada para resolver uma querela, espera-se que haja exatamente justiça. Ou seja, que a questão seja resolvida com imparcialidade que é o que a justiça se propõe… daí você fica sabendo que desembargadores vendem sentenças.

 

A pergunta que fica é: como será que está o andar de baixo, nas 2.682 comarcas existentes no Brasil, distribuídas entre os 27 tribunais de justiça estaduais e do Distrito Federal? Definitivamente a justiça brasileira perdeu-se no protagonismo que não lhe cabe. O executivo, eleito sem base parlamentar, foi obrigado a comprar partidos via sinecuras para apadrinhados, saindo de 12 para 38 ministérios e colocando à disposição dos senhores deputados 50.4 bilhões para as suas bases eleitorais; o que garante com folga a reeleição de cada um.

 

Todavia, essa montanha de dinheiro do contribuinte não apaziguou a base e hoje o governo enfrenta uma rebelião nas duas casas, Senado e Câmara Federal, obrigando a ministra Gleise Hoffman a pôr em prática a “operação fidelidade,” ou seja, quem não votar com os interesses do governo está fora das sinecuras, cargos em estatais, conselhos e outros penduricalhos que o governo distribui em troca dos votos dos senhores deputados e senadores. Definitivamente, ética é uma palavra que sumiu do diálogo entre os poderes constituídos seja no executivo, legislativo e judiciário. Lamentável.

 

 

Ilustra obra de Wolfgang Lettl (18 de dezembro de 1919 – 10 de fevereiro de 2008). Pintor surrealista que nasceu e morreu em Augsburg , Alemanha.

 

Este post foi escrito por: Hiram Souza

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