A glória de fazer 97 anos
Dia desses fui convidado para um aniversário. Não um aniversário qualquer, mas um aniversário de 97 anos de uma senhora. Fantástico! Fazer 97 anos já é uma proeza, afinal nesse Brasil em que vivemos, muita gente morreu de catapora, varicela, meningite, tuberculose, nó nas tripas, mal súbito, câncer e mais recentemente de uma coisa estranha que resolveram chamar de Covid 19 e que matou cerca de 14.9 milhões de pessoas no mundo, muito mais gente do que em alguns regimes de esquerda que estão por aí.
Vez por outra, ouço algumas amigas, senhoras com alguma idade, comentarem que ficaram mais robustas, ou ligeiramente caídas, ou ainda com alguns fios de cabelos brancos, e afirmando que uma plástica seria bem-vinda para reparar alguns “defeitos” que apareceram ao longo dos anos. Voltando ao aniversário, olho a aniversariante entrando na festa em sua homenagem e vejo uma senhora de 97 anos bem vividos, que se apresenta para a festa, bonita, lépida, faceira, desfilando a sua esbelta figura e que com um largo sorriso vai conversando com todos sobre diversos assuntos, muito mais modernos que a sua fantástica idade.
Na festa fui apresentado a filhos, filhas, genro, noras, netos, netas e bisnetos … bisnetos? Aí caiu a ficha. Ter bisneto é ser avô duas vezes, é ter vivido o suficiente para ter filhos que geraram netos, que por sua vez geraram bisnetos, e que tudo isso, a bem da verdade, é muito melhor que mamão com açúcar. Quando os bisnetos chegam, a responsabilidade, faz tempo, passou a ser de outros, que embora ligados a gente, não nos obriga mais a tomar atitudes. Aquele monte de responsabilidade que carregamos durante anos, passa a ser dos outros.
Percebi pelo sorriso da aniversariante que ela saiu do ringue de luta diária, e hoje está na plateia assistindo a banda passar, com os filhos, filhas, netos e até com os bisnetos e com uma sensação de dever cumprido. Confesso envergonhado, que em alguns momentos da festa fiquei com inveja dos 97 anos da aniversariante que cantou parabéns junto e aplaudiu ela mesma, ao apagar as 97 velinhas.
A turma não perdoou e colocou no bolo 97 velas para que ela pagasse no sopro. Ela foi lá e apagou, em vários fôlegos, mas apagou. Pensei nas muitas lembranças que ela tem de uma Curitiba das antigas, de bailes no Curitibano ainda na Barão do Rio Branco, dos trajes, das músicas, do comportamento, das regras para o início de um namoro à época, por exemplo.
No tempo em que um rapaz atravessava o salão do clube para ir até mesa da moça com seus pais para convidá-la para dançar, e após a dança, acompanhava a moça de volta à mesa, fazendo um gesto de agradecimento. Definitivamente outros tempos.
Por colaboração do amigo Kosta
Hiram Souza é publicitário de longa data e observador contumaz da vida. Escreve com humor e leveza sobre política, comportamento, educação e muito mais. Leia e comente!
Foto de Jill Wellington