sábado, 7 de setembro de 2024

A imprensa brasileira sob nova direção

 

Estou estarrecido com ausência de reação da imprensa brasileira ao violento ato de castração que ela sofreu no dia 29 de novembro próximo passado. Naquele dia o Superior Tribunal Federal, mais conhecido como Supremo, aprovou a tese que os veículos de comunicação, rádios, jornais, televisões, as agências de notícias, seus substratos tipo UOl etc deverão ser responsabilizados pelas declarações de seus entrevistados.

 

Em outras palavras, você, repórter, ao fazer uma entrevista nas ruas, dessas que vemos diariamente, precisa tomar o cuidado de perguntar antes ao entrevistado o que ele vai dizer, caso contrário o seu patrão vai ser responsabilizado e você talvez perca o emprego. Responsabilizar o veículo de comunicação pelas declarações do entrevistado é o maior absurdo que eu já vi na vida.

 

Com essa medida, os debates eleitorais entre candidatos a prefeito no próximo ano não serão possíveis, pois se o candidato A disser, como já ouvimos em passado recente, que o candidato B é ladrão e já esteve preso, e o fato seja, no futuro, comprovado ser um equívoco, a emissora de televisão será responsabilizada, segundo a nova norma do Supremo. Dia desses escrevi um artigo comentando a intromissão no STF em assuntos que não tem nada de constitucional, que é a razão de sua existência.

 

É só pesquisar um pouco que você descobre que mais de 425 mil processos judiciais estão parados em 14 tribunais do país a espera de decisões dessa Corte. A impressão que me causa como contribuinte e cidadão brasileiro, é que a nossa Suprema Corte não se preocupa, ou se diverte, com o sofrimento da sociedade no aguardo de decisões que às vezes representam vidas.

 

Sou obrigado a perguntar: em que lugar da Constituição está escrito que se uma pessoa entrevistada nas ruas, ou em um programa de estúdio, fizer uma afirmação leviana a respeito de alguém, o veículo será responsabilizado? Porque é exatamente isso que diz a novíssima tese daquela entidade de leis. Mas o grave mesmo desse novo imbróglio do STF é a forma como os interessados estão reagindo (ou não), pois não vi nenhuma nota oficial da ABI, ABR, ABERT, FENAJORE, nem das emissoras de televisão, as tradicionais redes como Globo, SBT, Record e Bandeirantes; ninguém deu um pio.

 

Será que a Suprema Corte exerce um medo tão grande sobre o futuro e a sobrevivência dos negócios das empresas envolvidas que estão sendo ameaçadas e por isso ninguém pia? Como já comentado aqui, entendo, embora não concorde, com esse medo por parte do Congresso, onde dos 594 membros entre senadores e deputados federais, 222 deles tem alguma pendência dormitando nas gavetas do STF, mas, a imprensa, tão guardiã da liberdade e da democracia, não se manifestar de forma até espalhafatosa em defesa dos seus direitos de informar, definitivamente, não entendo.

 

Fico aqui pensando com meus botões: a coragem sumiu? Como já disse, entendo os congressistas, embora não os perdoe pela covardia, mas a imprensa? Sou obrigado a perguntar: aonde foi parar aquele lindo juramento feito no dia de receber o canudo que papai pagou? Triste mesmo.

 

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Este post foi escrito por: Hiram Souza

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1 comentários em "A imprensa brasileira sob nova direção"

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