A louca no mundo e a experiência baiana
Dia desses, escrevi um artigo observando que deu a louca na corte maior da justiça brasileira. Ledo engano! Deu a louca no mundo. Em um momento da atualidade mundial, no qual Elon Musk taca medo no Ministro Alexandre de Moraes, com suas bisbilhotices “satélicas”, descubro que as Coreias do Sul e do Norte resolveram brigar. Assim, tipo briga de bugio, jogando lixo um no outro.
Assim eles conseguem brigar sem entrar em uma guerra de bombas e tiros, dessas que andam poluindo esse mundão de Deus. Kim Jong-Um, robusto líder da Coreia do Norte, e Yoon Suk-yeol, presidente da Coreia do Sul, estão brigando de uma forma mais civilizada, bem ao estilo oriental, porém bem menos limpa: andam trocando balões. Às vezes com mensagens, às vezes detritos e até fezes.
Esse fato, a briga via balões de lixo, me faz lembrar a Salvador dos anos 70. À época eu tinha uma agência associada por lá para ajudar no atendimento da conta da empresa de ônibus N.S da Penha, que operava a linha Rio- Salvador. Quando cheguei por lá os parceiros avisaram que após as 23 horas não era aconselhável andar próximo aos velhos casarões da Rua Chile, outrora residências de ricas famílias, que com o passar do tempo mudaram para apartamentos à beira mar.
Como aqueles casarões históricos não podiam ser demolidos por fazerem parte da rica história baiana, e contando sempre com a leniência das autoridades, a área virou uma favela bem no centro de Salvador. O curioso é que os casarões da época tinham muitas salas e quartos, mas apenas um ou no máximo dois banheiros – os moradores dos palacetes tinham muitos empregados e usavam penicos em seus quartos.
Com as invasões, muitos moradores de rua passaram a usar os casarões como moradia e logo virou uma correria: alguns levando a família inteira e foram dividindo salas, quartos e tudo que pudesse ser usado; afinal era morar de graça bem no centro de Salvador. Mas os casarões continuavam a ter um ou no máximo dois banheiros.
Nessa época em Salvador dois jornais disputavam ferozmente a preferência do público: A Tarde e o Jornal da Bahia, ambos com classificados de imóveis, venda de carros e outros com 20 a 30 páginas. Como o baiano é chegado em leitura, os jornais tinham grandes tiragens e eram lidos por todo mundo e, inevitavelmente, ao final do dia, acabavam nos casarões e à noite se transformavam em penicos.
Assim, cada morador que ficava longe dos banheiros tinha um reforçado pacote de jornais no seu espaço para ser usado nas emergências noturnas. Mais ou menos como o Brasil de hoje, apenas com um pouco mais de organização, pois os usuários do jornal tinham a decência de avisar: “sai de baixo Nonô de lá vai cocô” e jogavam pela janela os detritos embrulhados em jornal que chamavam de patusco. O pacote caia e fazia um estrago danado na rua, que na manhã seguinte era lavada pela prefeitura da cidade trazendo a convivência pacífica entre os moradores dos casarões e os usuários da rua.
Notem que em 1970 as autoridades eram mais conscientes; se não podiam acabar com a favela central, porque não era permitido demolir os casarões, o caminho encontrado foi, pela manhã bem cedinho, lavar as calçadas. Bem diferente dos dias atuais na Cracolândia, por exemplo, com as tentativas de retirar os usuários do local. Acho até que vou mandar a experiência baiana para os coreanos, vai que eles parem de usar balões e comecem a usar jornais.