segunda-feira, 16 de setembro de 2024

A meia-noite que prometeu mudar o mundo

 

Marcio Fernandes  —  No dia da eleição de Barack Obama, Nova York estava normal, fria, lotada de gente, taxistas ensebados e agenda movimentada na cidade. Maratona, Halloween, Assembleia da ONU. Todas as pesquisas indicavam vitória do candidato democrata. A possibilidade da eleição do primeiro presidente americano negro era contagiante. A massa da propaganda do democrata sufocava John McCain. Nas lojas de bugigangas havia variedade expressiva de souvenir com a fotografia do Obama.

 

Conforme foi previsto, exatamente à meia-noite daquela terça-feira, 4 de novembro de 2008, Obama iniciou o discurso da vitória em Chicago. 240 mil pessoas se aglomeraram no Grant Park da gelada capital de Illinois. O mundo se dissolvia na pior crise financeira desde 1929. O espigado Obama, naquela noite se comprometeu a devolver prosperidade ao povo americano e dar chance à paz. Os 800 bilhões de dólares injetados em Wall Street levantaram a economia americana. Sobre a segunda promessa, Obama, prêmio Nobel da Paz em 2009, foi o único presidente americano que passou os oitos anos de mandato em guerra.

 

 

Parcela expressiva da mídia americana e outros formadores de opinião davam suporte incondicional ao democrata. No dia 5 de novembro, o Museu Metropolitano de Arte Moderna de Nova York expôs na entrada da instituição o clichê da capa do jornal The New York Times. Na manchete, OBAMA, em letras garrafais, e “BARREIRA RACIAL CAI EM DECISIVA VITÓRIA.” Na Europa, Obama era felicitado com tratamento de celebridade. Ele era o cara da mídia. Sedutor inteligente que sabia manusear as oportunidades.

 

Ao discursar na Porta de Brandemburgo, em Berlim, Obama quebrou o protocolo e tirou o paletó para delírio da plateia de convicto entusiasmo multicultural. A esquerda da América Latina tinha por certo que Obama seria aliado vertical dos desalmados bananais governados por Cristina Kirchner, Evo Morales, Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, relacionados em ordem decrescente de latitude. Durante a Cúpula do G-20, em Londres, disse ao Lula que ele era o cara. A gentileza de Obama era a própria expressão do sarcasmo.

 

Em seu livro de memórias, o ex-presidente americano atribuiu a Lula escrúpulos de chefão da Tammany Hall, organização política mafiosa do Partido Democrata que controlou o governo da cidade de Nova York por 80 anos. Especialmente em relação ao Brasil, Obama foi envolvido em escândalo de espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA, sigla em inglês). Dilma Rousseff deu estremelique grande e cancelou viagem que faria aos Estados Unidos em 2013. Com alguma certeza, o trabalho da NSA descobriu que o dilmês demandava esforço adicional de inteligência para ser compreendido em qualquer estratégia de defesa.

 

 

Em Nova York estavam em andamento as atividades da 63ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Fiquei impressionado com dimensão material de pouca utilidade da ONU. Só discurso e uns caras de trajes exóticos, em família, com finalidade principal de fazer turismo de Estado em outlet. Lá eles descobrem o direito de comer cachorro-quente de rua sem menor risco da salmonela dos países de origem. Conhecem o que é produção musical impecável nos espetáculos da Broadway. Vão às compras delirantes em busca do sonho americano.

 

Não precisou muito tempo para percebessem que o fato de o presidente americano ser negro não o fazia um assemelhado do terceiro-mundo. Obama naturalmente governou para os americanos. Estimulou conquista de direitos civis e movimentou orientação retórica das mudanças climáticas. Fuzilou Osama Bin Laden. Aquela meia-noite em Chicago não mudou o mundo nem derrubou a barreira racial como anunciou The New York Times, mas deixou claro que nada mais seria como antes.

 

Marcio Fernandes é jornalista

 

 

 

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Este post foi escrito por: Marcio Fernandes

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