sábado, 7 de setembro de 2024

A minha neta que ainda não nasceu

 

Pietra é o nome dela.
Mas ela não existe ainda.
Sim! Desde que a Letícia Borges me mandou essas fotos, eu estou em estado de choque.
Chorei, me emocionei, me vi escolhendo a tradução das “Mil e uma noites” que ela vai conhecer primeiro. Folguei meu coração ao lembrar que guardei a coleção do Monteiro Lobato de 1974… ufa! Pensei até na Barsa, que foi minha introdução ao mundo.

Mas depois… depois fui pensar em Platão para quem, o que existe, é o reflexo do Mundo das Ideias.

 

Então essa lindeza existe.
A Inteligência Artificial só nos faz ver como ela é … ou será? Ou seria?
Meu Deus! Se ela é essa, é passível de direitos? Se é passível de direitos, temos nós o direito de saber como ela será ou é? Ou seria?

Se a Inteligência Artificial é capaz de desenhá-la, quão distante essa Inteligência está de fazê-la?
Será o Segundo Deus?
Sofri, sofri muito.

Filosofia, direito, ética, religião, tecnologia! Um caldeirão.
Mas, na volta da frutaria de bairro que agora ando frequentando, só conseguia pensar em como será o cheirinho do pé dela, nas vezes que dividiremos a cama, que cantaremos juntas, que iremos fazer as unhas e pintaremos de vermelho, nas histórias do primeiro amor.

Importante será conhecer Cecília Meireles, passar fio dental, fazer agachamento, acreditar que as Moiras tecem em nosso favor, conhecer Tim Maia e muitas e muitas coisas.

Ainda não estou bem certa sobre a Inteligência Artificial, nem sobre Platão, nem sobre ética nesse recorte.

A Pietra foi desenhada por um app, mas já está nos nossos corações.
Seja bem-vinda, mocinha!
Venha quando tiver que vir.
Nós já a temos na ideia.

 

Driblando o futuro

Britz Lopes – Pietra, a neta de Renata – sou a tia-avó –, nos faz viajar num emaranhado de achismos; todos doidos, mas possíveis. Acrescentando serás: Nós, humanos, seremos obsoletos num futuro com contagem progressiva em alta velocidade?

 

Mas, sem nós, que pensamos com neurônios naturais, quem vai dar sequência à evolução dos laboratoriais? O Segundo Deus, como diz a autora-avó-de-neta-virtual?

 

Mais: existe Inteligência Artificial sem a Natural? Já deve estar em gestação. Enquanto isso, corto melanzana em fatias de meio centímetro para fazê-la alla parmigiana, coberta com Pecorino Toscano, o mais maravilhoso queijo do mundo – ela, a AI, é capaz de produzi-lo? E desafio essa figura do outro lado do computador a fazer melhor! Pietra deve, também, aprender a cozinhar tão bem como sua tia-avó.  Porque a comida sempre vai vir da terra, nunca da sua network.

 

Aí vai a receita natural que a AI nunca será capaz de fazer! Será?

  1. Corte duas berinjelas grandes e saudáveis em fatias de meio centímetro.
  2. Deixe-as de descansar por meia hora com generosa pitada de sal salpicado.
  3. Passe na farinha de trigo, em ovo batido, na farinha de rosca e frite.
  4. Monte na travessa: camada de molho de tomate feito com pomodori pelati com alho e manjericão.
  5. Uma camada de melanzana, outra de pecorino ralado.
  6. E vai até que os ingredientes fiquem naquela dimensão, se deliciando um com o outro. Termine sempre com o pecorino.
  7. Leve ao forno e talhe um pão de fermentação natural para acompanhar.

Zero de artificialidade. Puro prazer! Buono appetito!

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Este post foi escrito por: Renata Abalém

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10 comentários em "A minha neta que ainda não nasceu"

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