segunda-feira, 16 de setembro de 2024

A vida é a arte do encontro

 

Comigo não funciona seguir o fluxo. Decidi tomar o caminho oposto e ligar o Google Maps para localizações italianas – algumas já velhas conhecidas, outras praticamente inóspitas, muitas completamente vazias por tratar-se de inverno do Hemisfério Norte. A Itália, longe da febre milanesa e de outros postos turísticos badalados, é um país vintage, que nunca deixa de nos surpreender com a delicadeza da simplicidade das pequenas cidades e um estilo de vida que não se rende à velocidade dos acontecimentos.

 

Em 36 dias de viagem foram 58 trens, seis ônibus, coisa de 400 quilômetros de carro e calculo 50 a pé, maioria deles empurrando a mala – já que mochila no frio é impraticável por causa dos casacos. Avião, só pra mudar de continente. Dez dias de muita chuva, nenhum de arrependimento, e um montão de encontros que estarão para sempre no meu álbum das melhores lembranças. Comecei por Milão para me aclimatar; depois Gênova, Santa Margherita, Portofino dos elegantes a desfilarem pelo pedacinho de praia famoso da Riviera Italiana e outros borgos adormecidos na redondeza.

 

 

Viajei nas cores e desníveis de Cinque Terre com Anna Paula Guerra – a gente lê o pensamento uma da outra até na hora de comentar a paisagem. Anna é providência em pessoa.  Depois, segui sozinha para La Spezia, Portovenere e mais cidadezinhas com um café, uma farmácia, uma padaria e um pequeno supermercado. Na chuvosa e deliciosa Lucca, terra de Puccini, um tigre gigante alegórico quase nos engole – eu e Anna Paula, em mais um delicioso encontro. De lá, entramos na fantasia do carnaval jocoso de Viarregio. E ainda fomos ver o painel do Kobra em Pisa. Peguei o rumo de Montecatini Termi só comigo mesma novamente. Daí foram sucessivos encontros na Toscana, onde saboreei o que melhor uma amizade com aconchego pode proporcionar nas montanhas. Estar na intimidade da casa de Anna Paula foi tudo pra mim.

 

 

Até que chegou a rainha das flores, minha delicada amiga Isabel Coelho, com seu italiano explorador de montanhas, Maurizio. Nos encontramos com Rosângela, que parece flutuar de tão leve que é a sua figura; Giorgio, que sempre me salva e tem resposta pra tudo. Fizemos jornadas inesquecíveis pelos cenários deslumbrantes. Estava eu com uma turma maravilhosa em Florença, ou Florence, Firenze, todas na Toscana; só pra localizar os menos avisados, que não são poucos.

 

 

A etapa final, decidida de última hora, foi com base em Bassano del Grappa para encontrar uma personagem impagável e imperdível da minha cena de vida, mesmo nos períodos de completa abstinência: Camilla ou Eliene Cinquetti; depende do país e da situação, sem precisar de muita explicação. De lá fui apresentada a Asolo, Castelfranco e Marostica, a cidade que do xadrez humano. Nos despedimos na estação Santa Lucía, em Veneza, onde peguei o trem para Milão, já no rumo da volta. Foi a última vez que ouvi, na temporada, a minha frase preferida: Allontanarsi dalla linea gialla. Dela eu sempre mantenho distância, mas do círculo dos melhores amigos, em qualquer continente, sempre estarei dentro.

 

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Este post foi escrito por: Britz Lopes

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1 comentários em "A vida é a arte do encontro"

  • Anna Paula Anna Paula disse:

    Amigaaaa , morrendo de saudades , ótimo resumo dos nossos encontros ( porque daria um livro) e kms que a senhora rodou !! Cade a foto maravilhosa da linha amarela que eu tirei ? 😂😂😂😂 “allontanare della lignea gialla “ vai ficar para sempre 💛💛💛💛

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