sábado, 7 de setembro de 2024

Amnésia carioca

 

Luiz Gravata  — Tenho acompanhado na mídia as merecidas homenagens aos nascidos em 1942. São vários os agora octogenários de grande destaque na música, nas artes, no cinema e na televisão: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Djavan, Suzana Vieira, Jorge Bem, Dominguinhos, Arlete Salles, Sergio Augusto e tantos outros. Mas sinto falta de gente que deveria ser também homenageada neste ano de 2022. (foto acima: Gravata e Tonia)

 

Mestre Millôr tinha uma frase que gosto de repetir: “A maior dor é a dor do olvido”. Quantas vezes a gente vê pessoas da maior importância esquecidas, algumas delas olvidadas na Casa dos Artistas ou em algum asilo de idosos? Conheço e conheci vários exemplos. Outros que se foram também estão passando em claro, no rol do esquecimento.

 

Gravata, Celinha, Tonia, Jaguar e Chico Caruso

 

Soluções somente são encontradas quando alguém levanta a lebre, toma providências, procura os donos da caneta; ai sai o que deveria ter saído naturalmente.

 

Querem um exemplo? Tônia Carrero, uma das mais importantes e consagradas atrizes brasileiras, do cinema, do teatro e da televisão teria feito, no dia 23 de agosto, 100 anos. Belíssima, nos deixou há quatro anos, aos 95, deixando um imenso legado na vida cultural brasileira. No cinema, estreou em 1947 com “Querida Suzana” continuando até 2008 com 19 filmes. Quem não se lembra de sua Suzana no “Tico-Tico no Fubá” com Anselmo Duarte? E nas mais de 20 novelas na televisão brasileira?

 

 

No teatro, estreou com Paulo Autran no TBC em 1949 com “Um deus dormiu lá em casa”, com a direção de Adolfo Celi com quem pouco depois se casou. Foram mais de 50 peças que atuou em sua carreira, interpretando Shakespeare, Ibsen, Tennessee Williams, Tchekhov, Sartre, Bernard Shaw, Pirandello e tantos outros. E uma grande curiosidade envolvendo esses três amigos, todos no galarim da fama do teatro brasileiro: Paulo Autran, Adolfo Celi e Tônia nasceram nesse mesmo ano de 1922 e fariam, também, 100 anos. Coincidência? Talvez.

 

Mas tudo isso é para lhes dizer que essa grande figura, que tive o privilégio de sua amizade fraternal, tanto quanto eu saiba, não mereceu uma linha sequer na lembrança da imprensa da terra em que nasceu, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

 

Tônia, Tereza Emília, Wander Arantes e Antônio Poteiro

 

Em compensação, São Paulo está desde o início deste mês, celebrando Tônia com a grandiosa mostra “Ocupação Tônia Carrero”, promovida e apresentada no Itaú Cultural na Avenida Paulista nº 149 – Bela Vista.  Tem sala de multimídia com apresentações de seus filmes, entrevistas, vídeos, gravações, fotografias, diários, materiais inéditos, anotações fornecidas pela família, poemas inéditos de sua autoria, nessa grande homenagem ao centenário da atriz. Também no teatro do Itaú Cultural é apresentada, de quinta a domingo, a leitura dramatizada do livro de Tônia “O monstro de olhos azuis” por seus netos Luiza, Carlos, Miguel e João Thiré, este ao piano, com histórias de momentos por ela vividos.

 

Agora vejam só como são as coisas: me disse há pouco Kiko, o sobrinho e braço direito de Tônia. Ela não foi esquecida no exterior. Recebeu ele essa imagem aqui reproduzida de um número 100 dourado, de uma diretora de teatro de Israel. Concluímos que a memória não é o forte de nosso povo e o olvido por vezes muito nos dói.

 

Tônia era única. Sinto muitas saudades do colo de nossa querida amiga, muitas saudades de sua conversa, sua alegria, seu savoir-faire e seus maravilhosos olhos azuis.

 

Tin-tin querida amiga pelo seu aniversário.

Saudades, muitas saudades…

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Este post foi escrito por: Luiz Gravatá

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