quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Aroma de caju na geladeira e o desastre do suco de laranja

 

Marcio Fernandes — Comprei simplesmente três sacos de caju por 50 reais. Wesley, fornecedor de rua perto de casa, é muito gente fina e sempre reserva os melhores pra mim. Gordinho no sol de Goiânia com paciência é coisa rara de ver e ele a tem de sobra. Paguei com Pix no celular. Instalei recentemente o bicho e isso alterou tudo em termos de transação financeira. O Pix é a contradição do Brasil que só bate na trave!

 

Tudo no país é lento e meia-boca. De repente, pra nos dar alegria, Brasília oferece uma coisa simples e funcional. Todo mundo fica feliz achando que não tem carga tributária. O Brasil é uma favela continental, com camelódromo para classe média e aeroporto de despedida à elite que vai pra Miami viver como brasileiro.

 

Aroma vegetal tomou conta do ambiente no Cinquecento 2012. Imaginei que fosse reflexo da passagem do caju pelo carro. Começou agradável. Cheiro natural de caju é tudo de bom em carro para duas pessoas. Meu olfato estava errado e a coisa começou a se deteriorar em termos de cheiro de fruta. Ao sair do 7º Tabelionato de Notas, uma terceira pessoa iria em meu carro.

 

Foi quando descobri que havia debaixo do banco do motorista uma garrafa de suco de laranja de 500 ml que simplesmente explodiu. Estava confirmado que o aroma não era de caju, mas de suco de laranja em estado de decomposição. Milhões de bactérias se fartando, sem autorização do proprietário, no interior do super privativo Cinquecento.

 

Hoje é sábado e não tenho como tomar providência. Vai ser resolvido na segunda-feira. O que não tem solução é quando a escrevente do cartório, com lenço de aeromoça dos tempos da Varig, diz que tua Certidão de Nascimento está vencida. Senhor, vence em seis meses de acordo com as normais cartoriais. Então, eu que nasci há de mais 60 anos, tenho prazo de validade de seis meses mesmo sem diagnóstico de câncer!

 

Agora eu me sinto como o Neil Young em I Am… I Said. Los Angeles é legal, mas eu sou de Nova York! Eu preciso ir urgentemente embora do Brasil. Têm algumas coisas importantes de que eu preciso fazer ainda, mas estou mesmo de saco cheio. Acho que um dia o Brasil vai ter o mesmo tratamento que dou aos meus inimigos. Será guardado no freezer!

 

Não tenho mágoas do Brasil, só não aguento mais! A fila não anda e tem sempre desculpa esfarrapada para o dolo. Eu não tive culpa é o Atestado de Impunidade neste País. Ontem mesmo, alguém lançou na rua lixo de balinha de uma SVU prata de origem chinesa. Não deu para ver se era homem ou mulher. Certamente um babaca se achando, com 58 prestações do carrão a pagar, cheio de empáfia e crente de que o Brasil não dá certo porque o povo é meio encardido.

 

Estou no segundo vinho da noite, já considerando sábado a sexta-feira que começou na noite passada com a Sururu. Morrendo de medo do que me espera na Alta Via 1 nos Dollomites, no começo de agosto. Não é um mês bom na história do Brasil, mas eu estarei a 3 mil metros de altitude, bem perto do céu.

 

É muito gostoso o aroma verdadeiro de caju que vem da geladeira. Vou fazer revolução de liquidificador! Suco de caju, melancia e melão! Só vão faltar as folhas de hortelã e a mexerica de quintal que ficaram em Pirenópolis! A fila anda cheia de boas lembranças enquanto rolam os American Songs de Rod Stewart!

 

Marcio Fernandes é jornalista

Este post foi escrito por: Marcio Fernandes

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4 comentários em "Aroma de caju na geladeira e o desastre do suco de laranja"

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