Até sempre, meu querido amigo Jaguar
Luiz Gravatá – Estou triste, muito triste. Já comecei essa tristeza na sexta-feira, quando conversei ao telefone com Celinha. Senti fragilidade, aflição e um pranto contido nessa mulher forte, nessa experiente médica oncologista. Ali me veio a certeza de que ia perder o querido e grande amigo Jaguar, uma amizade de quase 40 anos feita de muito carinho e imensa admiração.
Ele foi muito mais do que o gênio do traço e do humor que marcou para sempre a cultura brasileira. Para mim, foi o cara simples, generoso como poucos conheci em minha vida, sempre presente nas reuniões que fazíamos com os amigos aqui no boteco de casa, no Gravatá´s. Começo agora a me lembrar de momentos tão marcantes em nossa convivência, como no dia em que trouxe pela primeira vez Celinha aqui em casa para um almoço. Jaguar tinha conhecido havia muito pouco tempo aquela que se tornaria a sua mulher, seu anjo da guarda, a figura tão importante e fundamental em sua vida.
Para recebê-los, preguei na porta de entrada um aviso dando as boas-vindas ao casal. Muito tempo depois, Celinha me contou que ficou muito feliz com aquele gesto, mas muito nervosa em conhecer aquele pessoal, alguns famosos e que depois se tornariam seus fraternais amigos.
E o encontro dele com Paulo Francis aqui em casa, pouco depois que foi ameaçado de morte? E a viagem para Goiânia quando, no atelier de Siron Franco, puxou pela primeira vez um baseado? Na hora ele se assustou com uma trovoada que ocorreu; a turma lhe disse não ter ouvido nada… E o espanto ao assistir Antonio Poteiro fazer uma piroca de barro no atelier do Jardim América? Há outras, muitas outras boas lembranças.
Eu me recordo de um gesto muito especial dele que me deixou extremamente emocionado: quando fiz uma das minhas cirurgias, Celinha me disse estar ele profundamente preocupado e nervoso. Pode haver uma demonstração de amizade maior? Duvido haver.
Então, é isso. Jaguar foi muito mais do que o gênio do traço e do humor. Para mim, foi e será sempre o amigo generoso e inesquecível. Acho que não vai descansar muito em paz na terra do Todo Poderoso coisa alguma. Tenho certeza que vai, isto sim, promover reuniões e furdunços, vai fazer rir muitos dos que amigos que lá encontrou anteontem. Deve ter dado beijos e abraços em Tônia, em Millôr, em Paulos Casé e Caruso, Arthur ML, Marcito, Bianco, Sergio Rodrigues, Zé Lewgoy, Ziraldo, Francis e tanta gente boa que nos deixou!
Até sempre, meu querido amigo.