quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Custo é igual unha; tem de cortar sempre

 

A música Tempos Modernos, do Lulu Santos, tem seus versos de abertura que definem os tempos, sejam modernos ou antigos: “Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa, tudo sempre passará”.

 

Já que a nostalgia nos inspira nesta conversa, vamos relembrar algumas coisas que mudaram ao longo do tempo, mas que nunca mais voltarão – além das paixões e amores perdidos.

 

Antes, vou citar uma frase que é um postulado na vida empresarial: “custo é como unha, tem que cortar toda semana”. Juntando esse mandamento com a passagem do tempo, lembra como eram as embalagens de lanche do McDonald’s? Eram caixinhas de isopor, térmicas, que acomodavam o sanduíche pra que ele não desmontasse no transporte e conservasse a temperatura. Um dia, alegando que a fabricação das caixinhas aumentava o efeito estufa, a rede de lanchonetes enterrou-as e promoveu o papel para embrulhar o sanduíche, como em qualquer padaria da cidade.

 

McDonald’s, no mundo, sempre adota medidas simples para economizar dinheiro. Em 2008, eles decidiram reduzir a quantidade de fatias de queijo do “Double Cheeseburger” de duas para apenas uma, renomeando o lanche como “The McDouble”. A troca resultou em uma economia de 6 centavos de dólar por sanduíche e, anualmente, isso se traduziu em uma redução de aproximadamente US$ 15 mil (cerca de R$ 72 mil) por restaurante.

 

O preço mudou, para os consumidores? Nem um centavo. O McDonald’s cortou seu custo e aumentou seu lucro.

 

Embalagens de comida congelada da Sadia. Eram bandejas de fibra embaladas em caixas de papelão. Um belo dia, essas caixas foram trocadas por embalagem de papel. A Sadia reduziu seu custo, mas o consumidor não economizou nenhum centavo.

 

Sacolinhas plásticas de supermercado já foram abolidas em vários estados e ainda serão onde ainda sobrevivem, acusadas de serem antiecológicas. Imagina a quantidade de dinheiro que as redes economizaram ao parar de fornecer as sacolas plásticas. Mas, você, consumidor, não viu a cor de nenhum desconto. Cortaram custos igual cortamos as unhas. Ainda nesse capítulo, custos foram cortados quando os supermercados e lojas implantaram o check-out automático e assim puderam dispensar funcionários.

 

Bancos cortam os custos quase toda semana, como resultado da digitalização dos serviços. Agências são fechadas ou miniaturizadas. Com os aplicativos, o cliente se tornou indesejado nas agências e a imensa maioria dos serviços acontece pelos canais digitais. E, há quanto tempo a gente deixou de usar os talões de cheque impressos? Pensou na economia para os bancos, sem se tornar economia para os clientes?

 

Existem ainda milhares de exemplos de “unhas cortadas”. Passagens aéreas. Lembra como eram? Pareciam talões de cheque, um caderninho com capa e mais umas cinco folhas carbonadas, cada uma ia para um lugar diferente. Hoje, a passagem é digital e o cartão de embarque nem é cartão mais, você salva no seu smartphone ou imprime em casa usando seu papel e sua impressora.

 

Comida a bordo? Saudades da Varig. Quando a Gol chegou com a proposta de custo baixo, os lanchinhos a bordo foram trocados por barrinhas de cereal. A leitura de bordo foi abolida e as aeronaves, mais leves sem tanto jornal pesado, economizaram combustível.

 

Hoje, você paga pelo despacho da mala, pela marcação do assento e não demora o dia em que o passageiro terá que pagar pelo oxigênio respirado a bordo. Espero que eu já não esteja aqui.

 

A companhia aérea de baixo custo Ryanair diminuiu a quantidade de gelo servido nos drinques, assim aliviou o peso dos aviões— e o consumo de combustível. Uma estimativa apontou que a empresa economizou cerca de US$ 650 mil (aproximadamente R$ 3,2 milhões) com a medida.

 

E tem o caso clássico do corte da azeitona, promovido pela American Airlines. Nos anos 80, a companhia decidiu reduzir uma única azeitona das saladas servidas a bordo, e o corte resultou em uma economia anual estimada entre US$ 40 mil e US$ 500 mil. Tudo isso graças ao corte de uma única azeitona.

 

E nada do que foi, será de novo. Custos sendo cortados a cada semana, em nome do aumento da rentabilidade. Se você tiver alguma ideia brilhante para corte de custos, não conte pra ninguém. Poderá ser um tiro no seu pé.

 

Foto de Engin Akyurt: pexels.com/pt

Este post foi escrito por: Marco Antônio Chuahy

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2 comentários em "Custo é igual unha; tem de cortar sempre"

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