segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Depois de Cinque Terre, o passeio com o lixo em La Spezia

 

No sistema de viajar sem planejamento, acabei morrendo de paixão pela Ligúria, região da Itália que conhecia muito pouco. De Gênova fui a Santa Margherita Ligure e Portofino, que há muito me chamava por causa de Love in Portofino com Andrea Bocelli, em apresentação durante show na marina de lá em 2012.

 

 

Depois, segui para Riomaggiore, onde me encontrei com Anna Paula Guerra para explorar Cinque Terre. A cidade é de simplicidade e encanto desconcertantes. Praticamente deserta no inverno, tem uma unidade de cada coisa funcionando: uma farmácia, um supermercado, um bar, que Anna alcançava logo cedo para descolar um brioche com cappuccino e discutir política com os velhinhos locais.

 

Nos dias seguintes, fomos explorar as outras quatro terras do circuito: Manarola, Corniglia, Vernazza e Monterosso al Mare. As estações de trem margeiam o mar e a linha continua em intermináveis túneis que cortam as montanhas. Quando o comboio alcança céu aberto, desvendam-se construções em tons pasteis encrustadas nas falésias. Bate uma vontade incrível de fazer parte para sempre daquela paisagem real que lembra óleo sobre tela de pintor famoso.

 

 

Segui com Anna — e seus mais de 30 anos de Itália sem nenhum dia ter deixado de se supreender com o país que a acolheu — até La Spezia. Ela tomou o rumo de sua Firenze enquanto eu me estabeleci por aqui para explorar a redondeza até o dia 10 deste fevereiro. Tem sido chuva de confetes em forma de pequenos prazeres. Minha folia predileta é experimentar produtos diferentes do supermercado — os queijos formam bloco à parte –, conversar com senhorinhas no mercado e nos bancos das muitas pracinhas que há por aqui, como se fosse camarote vip de cerveja patrocinadora.

 

 

Ontem fiz um pequeno avanço até Vezzano Ligure de trem. Dei uma volta na cidade, tomei um cappucino, voltei. Chegando ao Airbnb de Enrico, anfitrião preocupado com minha solidão, fui descartar o lixo, tarefa complicada. Há um cartão que abre cada container: de papel, plástico, vidro e orgânico. Como era domingo à noite, todos estavam cheios e não abriram a boca. Dei uma volta grande com o descarte e voltei com ele pra casa. Por segurança, acomodei, devidamente embalado, o orgânico no congelador, técnica que desenvolvi para esse tipo de perrengue. Hoje me desfaço de tudo, pois ontem ouvi, durante o último copo de vinho, o pessoal da limpeza esvaziando os reservatórios. E sigo para a estação na expectativa de perceber qual cidade me chama.

 

Fotos: Anna Paula Guerra, que estuda meticulosamente ângulo, profundidade e luz antes de cada clique. Pela ordem: Riomaggiore, Manarola, Monterosso al Mare, Vernazza.

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Este post foi escrito por: Britz Lopes

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