segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Dia dos Pais. Em chamas, sempre

 

Rimene Amaral — Ainda nesta minha existência conheci, pessoalmente, pouquíssimas pessoas que gostavam tanto de pimenta como meu pai. Qualquer pimenta. Em quantidades absurdas! Qualquer prato tinha espaço garantido para “uma pimentinha”, como ele dizia, para atenuar a quantidade e a intensidade do fogo amigo. Falava isso sorrindo. E, muitas vezes, soluçando, dado o efeito avassalador da capsaicina, que também fazia coçar o couro cabeludo, só de experimentar.

Meu pai era conhecido, dentre tantos predicados positivos, como um excelente cozinheiro. E ele tinha suas preferências: moqueca baiana, pirão de galinha, sarapatel (o melhor que já comi), churrasco (temperado apenas com suco de laranja e sal grosso), sanduíche de pão de queijo com mortadela e molho tártaro… e por aí vai. Na verdade, assim como eu, ele só não gostava de jaca. Também não tinha uma admiração ferrenha por beterraba. Mas esta, com uma pimentinha Tabasco e limão, ainda passava. A jaca, não. Jamais! Nem com pimenta.

Para onde viajasse – e a Bahia era um dos destinos preferidos dele – voltava com um farto carregamento de pimenta. Gostava de todas, mas amava a malagueta. Fazia inúmeras conservas e usava o que fosse para extrair o máximo de cada espécie. E conseguia. Curtia pimenta no uísque, na cachaça, no óleo – esta sapecava feito fogo – e no vinagre. Mas não era qualquer vinagre e nem comprado em supermercado. Meu pai fazia o próprio vinagre de cana. “Coisa boa com coisa boa”, justificava a demora de quase três meses para o conservante ficar no ponto de receber as pimentas. Mas, geralmente, tinha o famoso vinagre de cana estocado em casa.

Se a pimenta malagueta era a preferida dele, sua versão diminuta, a malaguetinha, era uma paixão especial. Dizia ele que uma pequena valia por três das grandes. E era. Para garantir as melhores garrafadas do produto para o ano todo, meu pai plantava, em qualquer canto de terra ou vaso, as sementes que encontrava durante a jornada da vida. E plantou muitas, não apenas sementes de pimentas. Plantou sementes.

Neste Dia dos Pais o tempero é diferente. Não tem tanta pimenta, nem tanto calor, nem tanta picância, nem a marca registrada de quem sempre viveu intensamente. Onde quer que esteja, meu pai, Feliz Dia dos Pais! Obrigado por me ensinar que a pimenta vai além da ardência, que dá calor e prepara o paladar para o que pode vir de melhor. Saudades sempre!

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Este post foi escrito por: Rimene Amaral

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