sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Encontro com Clarice em Tchechelnyk

 

Luiz Gravatá é geólogo e jornalista – Há exatos 20 anos, estava eu em Tchechelnyk, cidade do interior da Ucrânia, cuja população mal atingia 5 mil almas. Que estava eu a fazer naquele fim de mundo, sob um frio de 30 graus negativos?  A explicação: meu amigo Helder Martins de Moraes, então embaixador do Brasil na Ucrânia, nos garantiu – a mim e ao jornalista goiano Marcio Fernandes – hospedagem em sua residência em Kiev, caso resolvêssemos conhecer aquele país. Não pensamos duas vezes.

Quando teríamos oportunidade de conhecer a usina nuclear de Chernobyl, local da tragédia nuclear de 1986, as escadarias de Odessa eternizadas por Eisenstein, o belíssimo mosteiro de Lavra, a catedral de Santa Sofia ou a cidade onde nasceu Clarice Lispector? Graças ao nosso caro diplomata, então, estive em Tchechelnyk, onde nasceu a grande escritora. A cidadezinha fica na região de Vinnytsia, bem no interior do país, centro de um Estado poderoso desde o século IX.

Gravatá no discurso regado a vodka

Nessa região governaram príncipes ruríquidas e portentosos czares 600 anos antes da descoberta do Brasil. Para vocês terem uma idéia de o quão pequena era Tchechelnyk, em 2002 sua população era quatro vezes menor do que a de Ipanema. Pois foi no centro dessa cidade que uma imensa parte dos habitantes, a maioria em trajes típicos, se reuniu para a inauguração da biblioteca pública que leva o nome de ilustre cidadã: “Biblioteca Clarice Lispector”.

Foi emocionante assistir ao furdunço: havia espetáculos de danças folclóricas, declamação, muita música, calorosas palmas debaixo de um frio inimaginável de 30 graus abaixo de zero! Depois da inauguração, um banquete foi oferecido pelo prefeito da cidade. Todos teríamos de fazer um pequeno discurso seguido de talagadas de uma preciosa e muito bem-vinda vodka. Eu também fiz o meu, é claro, seguido de muitas e muitas doses em homenagem à grande Clarice. Vocês podem imaginar minha situação no caminho de volta para Kiev.

 

Texto e fotografias: Luiz Gravatá, geólogo e jornalista

 

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Este post foi escrito por: Britz Lopes

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