Escargot não é moela de galinha
Quando descobri que tinha adquirido alergia a lula – inclui todas as espécies –, estava em Salvador, na Bahia. Aconteceu da seguinte forma. Eu e Marcio procurávamos um restaurante bacana para o final do dia, com probabilidade gigantesca de emendar até tarde da noite. Encontramos o Felipe Camarão, de onde apreciamos o pôr do sol do balcão, lugar sagrado em um bar que se preze. Ao nosso lado um senhor ensimesmado, mas que não demorou a puxar conversa na medida em que os copos vazios se acumulavam. Era o escritor João Ubaldo Ribeiro, freguês do local.
Ah, daí viramos amigos, os limites foram deixados de lado e conversamos sobre absolutamente tudo. Já bem tarde, pedimos o jantar. Nem me lembro o que comi. Só não me esqueço da garfada consentida que empreendi no prato de João Ubaldo – adoro experimentar a comida alheia – pasta com molho de lula. Terminamos a noite maravilhosa com promessas de novos encontros e formos para o Hotel do Farol, na Barra.
Assim que aconcheguei a cabeça no travesseiro, ainda encantada com o novo e famoso amigo, fui tomada por uma dor monstruosa no estômago. Passei a noite a vomitar no banheiro, me reidratando com água de coco, e nada de arrefecer. De manhã foi o jeito procurar ajuda no pronto-socorro. O simpático médico diagnosticou a alergia e receitou medicamento. Na terceira farmácia, me contorcendo de dor e ainda sem sucesso no encontro com a medicina adequada, o atendente sentado atrás do balcão, me olhou e disse: “Moça, tem não. Mas tu toma uma água de coco de isso passa”. Passou, mas somente 48 depois da ingestão do molusco.
Uma das lembranças da noite
Anos depois, trabalhávamos em O Popular e formos convidados pela jornalista Noemy Faria para uma grande festa de inauguração de uma boate na Pousada do Rio Quente. Fomos eu, Marcio e Márcia Pinchemel. Tinha show de sax, champanhe, lauto buffet internacional. Tudo de primeira. Bebi, conversei, entrevistei e fui me servir lá pelas tantas da manhã daquela já segunda-feira. Escolhi uma pasta apetitosa e uma carne que julguei ser uma moela de galinha gourmetizada. Estava uma delícia.
Quatro da manhã fomos dormir para o retorno às 6 em direção à redação. Assim que aconcheguei a cabeça no travesseiro, senti que começava a se repetir a saga soteropolina. Duas horas de banheiro, vomitando, e mais duas de estrada passando muito mal. A dor moía as minhas energias; me dava calafrios. Fui trabalhar com a dor no estômago.
Já em casa, recebo telefonema da atenciosa Noemy para saber as impressões da festa. Falei maravilhas de tudo, mas não pude deixar de registrar que a tal “moela de galinha” não havia me feito bem. “Moela de galinha? Eu vi você comendo foi uma massa com molho de escargot!” E foi assim que o molusco terrestre francês foi incluído no rol dos meus inimigos gastronômicos.
Gostei da matéria.
Amei…definitivamente nada de “moela de galinha” JAMAIS…NEVER NEVER🧡
Seu modo de recontar essas experiências é incrível ; posso imaginar seu desconforto , mas … una risada não dar negar à esse episódio.
Bjs
Kkkk isso acontece, lembra do filme ” Uma linda mulher “? Quando ministro os cursos chamo esses pratos de armadilhas a mesa!
Adorei as bem contadas histórias.
Bjos
Querida amo seus textos.
Quantas e quantas histórias vivemos por este mundão afora né?.
E está noite na pousada conversamos horas com a atriz global, Lady Francisco, chic, engraçada com suas prosas, lembra? 🌹❤️
Britz, minha grande jornalista, que delicioso jeito de contar uma “tragédia gastronômica”. Mas ainda bem que ficaram as coisas boas e somos amigas de verdade. Adorei o texto, a foto,etc. Te amo! Obrigada pelo carinho. ❤️
Te prometo vigiar vc em qualquer experiência gastronômica kkkkk já que lá pelas tantas da noite depois de “alguns” drinks …escargot se confunde tranquilamente com moela de frango rsrsrs
Amei sua matéria tia Britz! Muito bem escrita! 😍
Não gosto desta ” moela ” kkkkkkkk
kkkkkkk