Exposição de Ivaan Hansen escancara o “autenticídio”
A exposição “Uma História de Autenticídio”, do artista visual e filósofo Ivaan Hansen, é um convite para olharmos para nós mesmos — e percebermos até que ponto estamos nos tornando cópias uns dos outros.
A abertura será na quinta-feira, dia 16, às 19h, na Vila Cultural Cora Coralina, em Goiânia. Já no sábado, 25, às 16h30, haverá uma leitura dramática inspirada nas obras, com o ator Matheus Gomes.
Com curadoria de Joaquim Olivreiro e produção de Rosângela Camargo, a mostra apresenta oito pinturas inéditas e poderá ser visitada gratuitamente até o dia 9 de novembro.
Reconhecido no cenário das artes contemporâneas por uma produção autoral, crítica e profundamente humana, Ivaan Hansen tem mais de 20 anos de trajetória na pintura em tela. Suas obras têm como protagonista o ser humano — não o idealizado, mas aquele que carrega em si a complexidade, a fragilidade e a urgência do existir.
Para o artista, a figura humana funciona como um espelho. “Através dela, vemos não apenas o indivíduo, mas uma coletividade inteira. Colocar o ser humano como protagonista é lembrar que, apesar de todo o ruído do mundo, ainda somos nós que estamos em jogo — nossa identidade, nossa autenticidade e nossa própria essência”, afirma.
Um dos traços mais marcantes de sua linguagem é o uso simbólico de elementos visuais sobre a cabeça das figuras retratadas — signos que funcionam como mensagens, alertas ou estados mentais materializados. A proposta de Ivaan não é esconder, mas revelar: cada imagem sobreposta expõe o pensamento, a memória ou a dor que atravessa o personagem. Sua pintura, assim, não apenas se vê — ela nos vê de volta.
Segundo o curador Joaquim Olivreiro, a exposição constrói uma narrativa em que os personagens ganham voz e tornam-se eus-líricos de uma história. “Imaginei suas vidas, seus medos, o antes e o depois da cena congelada na pintura, e transformei tudo isso em relatos confessionais, poéticos e fragmentados”, comenta.
Trajetória
Entre o gesto pictórico e o pensamento crítico, a arte de Ivaan Hansen propõe uma pausa — uma suspensão do olhar automático — para provocar reflexão. Seus temas atravessam questões contemporâneas como a artificialidade das emoções, a sobrecarga de estímulos e a perda do real em meio ao excesso de informação.
“Questionar nossas atitudes cotidianas não é apenas um exercício intelectual; é uma forma de resistir à anestesia do mundo contemporâneo e recuperar uma mínima consciência sobre o que estamos nos tornando”, enfatiza o artista.
Formado em Filosofia, Ivaan leva para a tela um olhar profundo sobre o tempo presente, explorando a tensão entre aparência e essência, velocidade e silêncio, conexão e solidão. Sua obra convida o espectador à escuta de si e do outro — um gesto de reencontro com o humano.
UMA HISTÓRIA DE AUTENTICÍDIO — por Joaquim Olivreiro
A exposição é um paradoxo vivo.
Nascida de um intenso acompanhamento crítico que realizei no ateliê do artista e filósofo Ivaan Hansen ao longo deste ano, “Autenticídio” encara o ser humano de frente.
Confrontados com a mais brutal dualidade da existência, percebemos que somos, ao mesmo tempo, arquitetos de nossas próprias histórias individuais e, de forma paradoxal, seres universais, que narram sua vida como se representassem a totalidade humana.
É dessa tensão que nasce o neologismo que dá nome à mostra — uma palavra criada para definir a morte do ser autêntico, a espetacularização da própria existência e o ato silencioso de se perder nos automatismos da vida cotidiana.
Por isso, a exposição transcende a pintura e se desdobra em uma experiência múltipla, abraçando a literatura e a dramaturgia para oferecer uma imersão completa.
Ivaan Hansen traz consigo uma forte base existencialista. Como filósofo, ele se aproxima de conceitos como o “Dasein” (“ser-aí”) de Heidegger e da angústia confessada em Memórias do Subsolo, de Dostoiévski — pilares que sustentam a pesquisa desta exposição.
A experiência do visitante foi pensada para ser tudo, menos passiva. Queremos provocar estranhamento, incômodo e, com isso, movimento. Para guiar e aprofundar essa jornada, criamos uma narrativa que converte os personagens pintados em eus-líricos de uma história.
Além do texto curatorial fixado na parede, que situará o público acerca do conceito da mostra, haverá também um catálogo com ensaio crítico, estabelecendo pontes entre a obra de Ivaan, a História da Arte e a filosofia.
Outro eixo será o texto literário em primeira pessoa — um diário que escrevi para dar voz aos personagens das telas. O processo foi um mergulho: imaginei suas vidas, seus medos, o antes e o depois da cena congelada na pintura, transformando tudo isso em relatos confessionais, poéticos e fragmentados.
Esses textos estarão disponíveis em cadernos manuscritos na própria sala, convidando o público a uma intimidade rara com a obra.
Essa imersão também ganhará vida fora das páginas. Teremos uma visita guiada, em formato de conversa aberta entre mim, Ivaan Hansen e o público, revelando bastidores do processo. Além disso, haverá uma leitura dramática com o ator Matheus Gomes, realizada dentro da própria sala expositiva.
“Não existem telas nesta exposição — existe uma sala de espelhos.”
“É um velório que virou festa.”
Esta exposição é um convite. Para aqueles que já se sentem mortos, é um chamado à ressurreição. E para os que ainda acreditam que estão vivendo, é um alerta.
Mais informações: @ivaanhanse
Com Amora Comunicação