Não vou tirar da agenda o nome dos meus amigos mortos
Marcio Fernandes – Hoje eu estava fazendo o trabalho de compartilhar texto da Bybritznews e, ao abrir o WhatsApp, dou de cara com o contato do Othon Violatti Junior. Ele morreu na segunda-feira, 18, em acidente de moto na BR-153. Conversamos algumas vezes no grupo do Caminho de Santiago. Não nos conhecemos pessoalmente, ficamos de tomar um chope no Glória e não vai acontecer mais.
É uma pena, o Othon era um daqueles caras que seriam muito bem-vindos na roda dos novos amigos porque tinha um humor diferenciado e estava de bem com a vida. Quem te faz rir espontaneamente na maior parte das vezes tem a generosidade como princípio. Eu não vou tirar o nome do Othon da minha agenda, mesmo ele não tendo sido meu amigo.
A minha agenda do telefone celular está cheia de amigos mortos. Como vivem no céu, eu não posso removê-los da nuvem. A pandemia levou muita gente querida que não estava na hora de ir e preservou outros que não fariam falta. O fato é que a altura do campeonato impõe que os amigos morram mesmo. É próprio da condição de idoso ter encontro marcado em velórios.
Eu não faço como aquele senhor desolado, que numa manhã fria em Montmartre, apaga da agenda a lápis o nome de um amigo recém-enterrado, exatamente no momento em que nasce a sensacional Amelie Poulain. Depois de Forrest Gump, O Fabuloso Destino de Amelie Poulain é o melhor filme de todos. Ela também tem o cabelo de espiga de milho. Lindo.
Por outro lado, não espero nenhuma ligação dos meus amigos mortos simplesmente porque ainda não tenho convencimento de que alma exista. Nem quero pensar no assunto. Mesmo sendo católico apostólico romano, acho que essa história de reencarnação é uma furada grande. Morreu, acabou.
Eu vivo jogando fora as coisas que não me interessam mais ou que deram em nada, no entanto sou cismado em tirar o nome dos amigos mortos da agenda. Tem um pouco de não dar oportunidade para alguém me remover da agenda por motivo de falecimento.
Em Pirenópolis há o costume de carro de som anunciar a morte dos locais. O locutor dá o nome da pessoa, diz que ela é filha de fulana de tal, mãe de fulana de tal, tia de fulana de tal, morava em tal lugar etc. E aquilo vai se repetindo enquanto o motorista sobe a Rua Pireneus. Acho que não quero o meu dia de morte anunciado na cidade. Morreu hoje Marcio do Beco do Sapo, seria o começo do epitáfio.
Depois dos 60 anos, pelo menos para mim, o tempo é o bem mais valioso. Se não deu para ficar rico, não vai ficar mais. É o como diz o Caetano, “sem mágoas estamos aí”. Como é bom tirar um tempo para ficar à toa, comendo melancia fatiada na cama e jamais pensar em tirar da agenda o nome dos amigos mortos. Não vou fazer isso com eles.
Marcio Fernandes é jornalista
Marcio Fernandes e Pio Vargas. Foto: Leandro Cunha
Também me deparo com esse problema, não que ter o nome dos amigos mortos na minha agenda importe ou não, mas acho que tirá-los é uma desconsideração no sentido de não querer mais me lembrar deles, e amigos são para ser lembrados, mortos ou vivos.
Flávio, muito obrigado. Ébpor aí mesmo!
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Bom dia Geni. Com muito prazer. Pode me enviar o texto 62 999734246