quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Nina nos belos horizontes das terras altas da Paulistânia

 

Marcio Fernandes – Meu destino era Florianópolis, mas por conta do cancelamento do voo perdi o plano de ficar encostado no Daniel por horas comendo chocolate para dividir o afeto imenso que se encerra em nossos corações de amor 100%!

Na mudança de proa acabei por ir à casa de Ricardo e Aletéia para pajear a Nina por dias a fio. Quando estou com ela não há limite de amor dedicado, mesmo na hora em que ela acorda indisponível nas primeiras horas do dia, como toda Melo.

Logo ela muda de humor, me chama para brincar de lobo-mau em enredo no qual os três porquinhos não têm aquele afortunado destino da estória.

Com Nina, também, a Rainha Má é mais interessante do que a blasé Cinderela e o Capitão Gancho preferível ao insonso Peter Pan!

Quando quer, e só quando quer, Nina ama cantar Asa Branca com vozinha de taquara rachada e dá colo de pijama de algodão gostoso enquanto a gente divide tigela de morango e eu caio no sono!

 

 

Como o vovô, Nina ama bolo de chocolate, sussurrar segredos no ouvido e brincar de estátua para ignorar os presentes.

Depois que andou de avião, nossa nova história é ela subir no meu pescoço para fingir voar. E como vamos longe na sua imaginação de muitos céus de ilimitada criatividade e nuvens brancas como a pele de porcelana desta linda menina do nariz de pingo de orvalho!

Nina nasceu com o matriarcado de Melo no sangue e nunca será subjugada ou oprimida como todas mulheres da família!

A cada hora ela inventa a própria brincadeira de criança e corre como  velocista miudinha a hospitalizar de cansaço o idoso que tenta acompanhar o seu ritmo.

Eu a beijo, cheiro e abraço quando é permitido! Ela pratica a revolta dos despossuídos, pinta e borda deliciosamente!

Meu Deus, como é frio na Serra da Mantiqueira! Em Passo Quatro, sul de Minas, eu sou o único falso mineiro que fala uai! Está rolando aqui festival gastronômico com comidas boas e vinho da terra sensacional! Conheci muita gente de alto quilate de amor e caráter!

As altas montanhas me lembram a Espanha e o vento frio traz agora 6 graus como se eu estivesse navegando nos ares gelados no horizonte da saudade tamanha!

Toda vez que trafego pela Via Dutra sinto certa angústia! Parece que meu irmão está por aqui! Tenho a sensação de que a alma da causa mortis  incerta do JK se mistura aos milhares de carros e caminhões apressados em um tráfego cruel!

 

 

Em Passa Quatro ocorreu a mais feroz batalha da Revolução Constitucionalista de 1932! Aqui nasceram José Dirceu e Oswaldão, lendário combatente da Guerrilha do Araguaia! E passa a linha do trem que não passa mais para meu desespero ferroviário! Tudo abandonado, exceto uma composição de Maria Fumaça que vai alegrar o dia da Nina.

Eu e Waldyr, novo amigo bom de papo e trilha, começamos a subida da Rota Itaguaré às 9 horas da manhã. Frio relativo e céu mais azul impossível. Ao todo foram 10,6 km, metade em subida da montanha, no imenso maciço da Serra da Mantiqueira.

Tivemos um ganho de altitude de 335 metros, sem muita dificuldade, exceto a renite minha companheira inseparável! A trilha circunda o Pico Gomeira, cujo cume está a 2.068 metros, nossa referência de orientação da bússola de celular, que não confio muito! Para mim bússola é material!

A Paulistânia é o espaço geográfico onde se assenta a cultura caipira desde o Vale do Paraíba até parte do Mato Grosso. Uma obra-prima iniciada pelos bandeirantes e que resiste ao tempo com muita galhardia.

 

 

 

Foi definida no começo do Século 20 por Alfredo Ellis Jr. e depois desenvolvida por Antônio Cândido.  Trata-se de um universo material e mágico do qual minha família faz parte desde o Século 19!

Espetáculo estar com a Nina neste ambiente no qual começou o Brasil e não há chão que o finde por mais que você ande a  Oeste na trilha traçada pelos bandeirantes nos belos horizontes da Paulistânia!

Texto e fotografias Marcio Fernandes

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Este post foi escrito por: Marcio Fernandes

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