sábado, 7 de setembro de 2024

O Brasil e seu eterno Febeapá 

 

 

Hiram Souza – Febeapá quer dizer Festival de Besteira que Assola o País. O bordão foi criado pelo talentoso jornalista, escritor e poeta Sergio Marcos Rangel Porto, mais conhecido como Stanislaw Ponte Preta, que usava esse codinome para escrachar as mazelas dos governos nos anos 50/60. Bem educado e de boa família, circulava nas altas rodas cariocas trazendo para o público uma visão bem humorada da sociedade e dos costumes daqueles anos. Famoso por comentar, à época, que se “peito de moça fosse buzina, ninguém dormiria em Copacabana”.

 

Lembrando das tiradas do Stanislaw Ponte Preta me ocorreu que o Brasil vive de forma intensa os seus dias de Febeapá. Parodiando Stanislaw: se desmandos, rasgação de leis e roubos fizessem barulho, ninguém conseguiria dormir no Brasil.

 

Não me lembro de ter vivido antes um período tão surreal como os que estamos vivendo em todas as áreas da chamada administração pública. Se olharmos para o Congresso, vemos uma sanha irracional na busca de benefícios pessoais; se mirarmos o Governo, temos um presidente que não preside nada a não ser o microfone para falar besteiras que desestabilizam a economia.

 

Administrar o País para o qual foi eleito, nem pensar. Até a cadeira presidencial anda com saudades dos glúteos do seu raro ocupante. Olhando para o Senado da República: em 2020 já tínhamos um em cada três senadores sob investigação da Justiça. Na mesma época, na Câmara Federal, 107 deputados eram também investigados.

 

Como os parlamentares gozam de um absurdo chamado “imunidade parlamentar”, cada um deles é uma espécie de 007 com licença para roubar. E, quando flagrados, pedem para ir para os braços do Supremo Tribunal Federal, que por sua vez mantém em suas profundas gavetas 150 parlamentares sob investigação criando, assim, o já conhecido círculo vicioso – eu engaveto o teu processo e você me deixa legislar.

 

Como os senhores congressistas aceitam essa pantomima, não é de estranhar que o Supremo esteja decidindo a quantidade de maconha que seu filho pode portar sem ser preso. O problema para a sociedade é que os custos de ambos, STF e Congresso, estão ficando insuportavelmente caros.

 

Bem que eles podiam entrar em acordo e baratear o custo para o povo pagador de impostos escorchantes. Se na esperança de achar alguma coisa coerente, olharmos para o “novo Governo” vamos encontrar 12 ministros sob investigação da justiça, lembrando que todos são portadores da tal “imunidade parlamentar” e, por isso, são julgados pelo Supremo. E segue o Febeapá.

 

Mas como de um jeito ou de outro, tudo acaba no STF, fato reconhecido até pelo Ministro Dias Toffoli, vamos ter que olhar também para essa poderosa intuição que ultimamente tem assombrado a vida dos brasileiros que se interessam pelo País em que vivem.

 

Brasiliense de Direito Público resolve fazer um evento em Portugal, que ficou conhecido como “Gilmarpalooza”.  Precisava ir a corte toda? Pegou mal! Foram todos os dez ministros, já que Gilmar foi o anfitrião, e mais alguns ministros do governo que estão sob investigação da mesma corte.

 

E pior: participaram do evento 12 empresários com problemas que estão sendo julgados pela corte. Sobre aquele caso em que a família do Ministro Alexandre de Moraes foi agredida no aeroporto na Itália, o delegado da PF mandou arquivar o caso, mas isso não foi satisfatório para o Ministro, que trocou de delegado e o novo delegado indicado para o caso indiciou a família. Ato contínuo, o delegado que enquadrou os que buliram com o magistrado foi promovido para um cargo no exterior.

 

Como podemos ver, o Brasil atravessa um período de intenso Febeapá. Creio que nos resta repetir o imperador romano Júlio César: “À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta.”

 

Ilustra: Cena do filme besteirol American Pie, de 1999

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Este post foi escrito por: Hiram Souza

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