quinta-feira, 21 de novembro de 2024

O caos da República Piratininga

 

São Sebastião do Rio de Janeiro, julho de 1892.

 

Sra. Editora,

 

Espero que essas minguadas linhas vos encontre bem e que a Espanha esteja agradando vosso coração. Por certo vosmecê tem colhido aqui e acolá percepções sobre nossa nova República e o desandar desse país brasileiro.

 

Pois sim!

 

Eis que as coisas são como estão postas e as más línguas, parecem-me, não são tão ruins assim… é o caos, senhora. Instalou-se o caos na República de Piratininga. Veja bem, ponha tento: a quem serviu a deposição da coroa? Quais foram os interesses senão sangrar os cofres guarani?

 

Acá o custo de viver anda pela hora da morte.

 

O Centro da Capital, antes Corte Imperial, tornou-se verdadeiro horror com a quantidade de alforriados sem emprego, vivendo de esmolas e embriagados de cana fermentada, dormindo ao léu. Uma lástima.

 

Mas, já se vê um ou outro, antes senhor de posses, com roupas esfarrapadas e bens, todos eles, penhorados pelo Banco do Brasil.

 

O dinheiro sumiu.

 

Se não sumiu, está para além de bem escondido.

A cidade, senhora, fede!

Já não há prazer em visitar o Centro.

Melhor que vossa viagem seja prolongada.

Despeço-me sem novidades que possam alegrar vossos dias.

Assino somente como

 

Sinhá

Este post foi escrito por: Sinhá

As opiniões emitidas nos textos dos colaboradores não refletem necessariamente, a opinião da revista eletrônica.

Deixe uma resposta