sexta-feira, 22 de novembro de 2024

O fotógrafo construtor de pontes

 

O baiano Robério Braga é um daqueles fotógrafos que não se contenta simplesmente com a imagem imortalizada no papel. Há 34 anos ele investiga e fotografa temas relacionados aos rituais e costumes da população afrodescendente da Bahia. Seu trabalho ganhou atenção ainda no início dos anos 1990, quando participou da Bienal do Recôncavo, em São Félix (BA) e da Mostra Nacional de Fotografia na Universidade Federal da Bahia.

 

 

Ao longo dos anos produziu várias séries fotográficas que exaltam e dão visibilidade à potência da ancestralidade e dos saberes que perpetuam a cultura negra da Bahia e da África. O interessante trabalho é inspirado no fotógrafo malinês, Seydou Keita, e justapõe vestidos e fundos com padronagens para obter um efeito mimético nas fotos. Esse efeito é hoje usado por muitos jovens artistas africanos e Robério se inspirou para fazer o diálogo entre Brasil e África.

 

“Salvador, onde moro, é uma cidade muito africana. Fui na feira de São Joaquim e comprei os tecidos Ankara, que são todos africanos. Tive a oportunidade de colaborar com a estilista Carola Hoisel, que fez os modelos do zero. Criou e costurou todos eles à mão. Daí fiz as fotos reais usando o mesmo tecido de fundo. Não tem pintura nem truque. Só feito visual”, explica ele.

 

 

O próprio Robério faz o casting dos modelos, que são escolhidos com base na representatividade do continente africano. Chamam a atenção os cabelos, que são cuidadosamente escolhidos numa pesquisa de época. Muitos deles são tirados de um livro que registra a chegada dos escravos no continente americano.

 

Gente da cor – É o nome da nova série de fotografias de Robério, uma homenagem à cultura e estética africanas, projeto desenvolvido especialmente para a Urban Arts, com a curadoria da Galeria Mário Cohen. Projetos como “Luz Negra”, “TrançasBarrocas”  e “Ventos da África”, que ele desenvolveu durante sua rica trajetória se condensam em “Gente da Cor”, onde ele se aproxima dos colegas africanos e faz uma releitura desta estética, fotografando em Salvador. “Esta série é minha homenagem à riqueza cultural da África e sua presença em cada parte do Brasil; busco construir uma ponte entre nossos mundos”.

 

Este post foi escrito por: Britz Lopes

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