terça-feira, 3 de dezembro de 2024

O grande problema de ter único sobrenome e ser tratado como idiota no Brasil

 

Marcio Fernandes – Não importa se é uma repartição pública ou uma empresa de comércio na Internet. Se você tiver só um sobrenome no Brasil e ele pertencer a milhões de catiretes, será tratado como um Zé Ninguém pela telefonista chamada Klemoneyde. Eu sempre passo pelo constrangimento e não há uma ONG engajada na proteção do sobrenome único a me socorrer. O diálogo acontece nos mesmos termos.

 

– CPF, senhor?

– 277…!

– Nome?

– Marcio Fernandes!

– Senhor, Marcio Fernandes de quê?

– Ué, Marcio Fernandes mesmo!

– Senhor, Marcio Fernandes Mesmo não confere com o CPF!

– Claro que não confere, pois meu nome é só Marcio Fernandes e foi a senhora quem me pediu um segundo sobrenome.

– Neste caso, vou estar passando o senhor para o departamento de identificação.

– Obrigado, dona Rosicleyde.

– Senhor, meu nome é Klemoneyde e conto com a sua avaliação do meu atendimento.

 

 

Uns cinco anos antes da pandemia, eu tive a consecução de pequenos problemas de identificação para deixar e entrar no Brasil. Havia um alerta de captura da Polícia Federal de certo Márcio Fernandes, com assento no Márcio e que positivamente não era eu. Em vez de verificar minha filiação, o preguiçoso policial me pedia algum outro documento de identidade. Nunca deixei barato abuso de autoridade.

 

– Senhor, meu documento de identidade é o passaporte.

 

Até que um dia eu passei pela imigração numa boa, não sem antes perguntar ao policial federal do paradeiro do Márcio Fernandes. Estava sob custódia da justiça brasileira e bem avançado no estudo de Libras para reduzir ⅓ da pena por tráfico internacional de drogas, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro. Um espetáculo de comportamento penitenciário do reeducando que faz planos de ser tradutor de Libras para o crime organizado.

 

Eu tenho de resolver definitivamente a picaretagem do Mercado Livre a respeito da compra de uma adega que veio com defeito de fábrica e não houve reembolso. A empresa me trata como um idiota. É eficiente ao debitar o cartão de crédito e super desqualificada ao não ressarcir do prejuízo. Quando a atendente chamada Robervânia perguntar meu nome, vou dizer Marcio Fernandes.

 

– Senhor, Marcio Fernandes de quê?

 

Uai, vamos trabalhar com três possibilidades.

Tenta primeiro Palhaço. Se não der certo, Marcio Fernandes Mentecapto. Se tudo der de novo errado, Marcio Fernandes de Melo.

 

Melo é o sobrenome que não tenho, mas está na família há mais de 120 anos em Goiás. Minha avó também passava pelo constrangimento da pergunta idiota. Carlota de Melo morria de antipatia quando alguma Marivalda da vida a perguntava: “Carlota de Melo de quê”? A resposta era precisa e imediata.

 

– Carlota de Melo, sua retardada!

 

 

Marcio Fernandes é jornalista

Este post foi escrito por: Marcio Fernandes

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1 comentários em "O grande problema de ter único sobrenome e ser tratado como idiota no Brasil"

  • Flavio disse:

    É, simplificar tem suas vantagens e seus problemas…meu nome de família é bezerra, meu pai perguntou ao meu avô porque bezerra, já que ele ouviu gozacao a vida inteira, especialmente dos meninos do fundão da classe gritando bé, bé, bé, ao que meu avô prontamente respondeu: somos descendentes de uma família nobre de Portugal, porisso mantemos o nome familiar, meu pai retrucou: nobreza e para quem tem dinheiro, nós não temos..é nenhum dos filhos herdou esse sobrenome pecus.

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