O produtor dos mais raros vinhos do Brasil
Ele é enólogo e diretor da vinícola Marco Luigi, localizada em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul, propriedade que está na família desde 1875, quando seus ascendentes vieram da Itália com a bagagem cheia de sonhos e mudas de videira. Leonardo Valduga faz parte da quinta geração dessa linhagem e trabalha junto com o pai, Victor, 89 anos, e a sua mãe. A Marco Luigi hoje é aberta ao enoturismo, degustação guiada, eventos, e produz os chamados Vinhos Raros; muitos guardados desde 1998. A grande preocupação de sempre de Leonardo é uma só: produzir, a cada colheita, um vinho de melhor qualidade que a anterior. Técnicas? Ele tem de sobra e conta tudo nesta edição de BbnewsEntrevista.
BbnewsEntrevista – O que são os Vinhos Raros da Marco Luigi?
Leonardo Valduga – São fruto da reserva particular da família, que sempre guardou uma pequena quantidade de garrafas a cada lote elaborado. Estes vinhos eram degustados apenas entre amigos e familiares para avaliar a evolução da bebida com o tempo. Porém, a pedido de clientes e apaixonados pelo conceito, a família resolveu abrir as portas da cave para compartilhar essa incrível experiência com quem aprecia a complexidade que um vinho evoluído pode entregar. Hoje, quem leva uma garrafa de Vinho Raro, leva um pedacinho da história da família. Elaborado em uma safra excepcional, resulta em um vinho harmonioso, envolvente e sedutor, com elevada viscosidade. Taninos firmes, acidez correta e final longo, seu retrogosto é envolvente e demonstra a qualidade da matéria-prima colhida no ponto perfeito de maturação. O resultado é um vinho de elegância e notável complexidade! A garrafa é enviada diretamente da cave, com poeira, e envolta em papel de seda e com etiqueta exclusiva.
BbnewsEntrevista – Quais as técnicas utilizadas para se chegar a esse produto tão elaborado?
Leonardo Valduga – Temos uma linha de vinhos elaborados em vinhedos próprios. Não usamos defensivos; usamos o trevo, que plantamos junto com as parreiras para manter a temperatura, a umidade e as bactérias. Ele também produz o humos, o que vai fazer toda a diferença no produto final. Também mantém o solo vivo. Nós aqui não temos problemas de erosões, pois nossos vinhedos são plantados em patamares. Caso contrário, a chuva lavaria sempre o solo. Então essa cobertura verde mantem as condições ideais do solo, que produz um vinhedo sempre com as mesmas características. Antigamente a parreira vivia de 12 a 15 anos; hoje os nossos vinhedos podem durar 50 anos, sempre com melhor qualidade.
BbnewsEntrevista – E isso, claro, influencia no produto final, que é o vinho…
Leonardo Valduga – O vinho agradece, pois as raízes das parreiras são mais profundas, sete, oito metros de profundidade, onde estão os melhores nutrientes. Então, não usamos produtos químicos no vinhedo, o que dá um diferencial no custo do vinho. Com adubação a uva cresce muito rápido, mas a casca fica deteriorada; uma casca mais fina sem muita qualidade, o que vai refletir no vinho, que vai ter um envelhecimento mais longo.
BbnewsEntrevista – Essa técnica de utilização do trevo foi desenvolvida pela Marco Luigi?
Leonardo Valduga – Nós que lançamos aqui. Hoje o maior problema que os produtores do Sul do Brasil têm é o excesso de ervas daninha, porque o solo é muito fértil. Demorávamos muito para limpar o solo. O trevo é ideal pra isso porque tem raízes rasas – a grama é mais profunda – e ele cresce pouco, mas faz uma folhagem abundante, não deixando espaço para outras ervas.
BbnewsEntrevista – Que outras técnicas vocês utilizam para fazer um vinho sempre melhor?
Leonardo Valduga – Nós temos uma poda muito radical. A gente trabalha com o método Guyot. A planta sobe até mais ou menos um metro de altura e dá um galhinho só para o lado. Então é uma produção muito pequena para garantir a qualidade. Então, o que acontece, a planta vai ficar com uma estrutura muito potente com pouca produção e os cachos são maiores e mais espalhados. Isso levou vários anos de estudos. Existem tipo 40 variedades de uva Merlot; umas de cachos maiores, outras menores. Isso deve ser adaptado à região. Então, por que as vinícolas boas são menores, com produção familiar? Porque o manejo ideal vai passando de pai pra filho e demora para que a gente chegue a um corte especial. A gente vai estudando o vinhedo até fazer novas descobertas e o vinho vai evoluindo. Às vezes o vinho fica espetacular, mas se eu diminuo meio grau na fermentação eu consigo melhorar muito. Então, vamos aprimorando com o passar dos anos.
BbnewsEntrevista – O vinho perfeito é produto difícil de se alcançar?
Leonardo Valduga – Para se elaborar um vinho nota 100, precisamos de 10 notas 10. É o vinhedo, o sistema de condução, a hora certa da colheita da uva; tudo influencia. Se uma dessas etapas não estiver correta, vamos alcançar no máximo 40 pontos.
BbnewsEntrevista – Com quais uvas sua vinícola trabalha?
Leonardo Valduga – Hoje são 30 hectares de propriedade. O que mais temos aqui é Malbec, depois Merlot, Cabernet Sauvignon, Toriga Nacional, Alicante Bouschet e Marselan.
BbnewsEntrevista – Estamos falando de quantos rótulos?
Leonardo Valduga – São cerca de 17 rótulos, entre vinhos e espumantes. Além de cinco vinhos de castas únicas, as monocastas, temos os blends, tipo Merlot, Malbec e Marselan. Temos um Gran Malbec, bem encorpado. O Lenda Viva, que é um vinho em homenagem ao meu pai, que foi pioneiro no plantio de castas nobres. É um vinho exclusivo, cheio de lembranças. Temos também a linha Marco Luigi Vinhos Raros, que são os vinhos de guarda, devidamente envelhecidos. Temos exemplares de 1998 pra cá. São vinhos simplesmente espetaculares, únicos, de uma adega exclusiva da família. Nós começamos a guardá-los para ver como os vinhos se comportavam. E eles se comportam muito bem, pois só estão melhorando.
BbnewsEntrevista – Qual é a sua produção anual?
Leonardo Valduga – Entre vinhos e espumantes, são 120 mil garrafas por ano, uma produção pequena de vinhedos próprios.
BbnewsEntrevista – O que você acha que foi determinante para que o vinho caísse no gosto do brasileiro?
Leonardo Valduga – As pessoas foram adquirindo a cultura do vinho, por ser uma bebida saudável. Daí os filhos vão aprendendo com os pais. Sem falar que o vinho une a família. Tem também a história do custo benefício e o fato de o vinho não criar dependência. E o mundo do vinho é fabuloso; quem entra não sai mais. E, por último, a abertura do mercado internacional.
BbnewsEntrevista – O vinho brasileiro já alcançou a qualidade dos que são feitos no Velho Mundo?
Leonardo Valduga – Há vinhos bons no mundo inteiro, os enólogos são bem preparados e vão se aperfeiçoando para ajustarem os vinhedos à realidade local. Uma empresa produtora, se não tem muito capital de giro, tem de fazer vinhos mais jovens. E aqui no Brasil, se você pegar quem sabe elaborar bem o vinho, não ficamos devendo nada a ninguém. A Marco Luigi tem medalhas, assim como outras vinícolas e isso quer dizer que você tem vinhos equivalentes no mundo inteiro. E você sabe, que quanto mais dificuldades a parreira enfrenta, melhor será o vinho.
BbnewsEntrevista – O problema é que o bom vinho produzido no Brasil acaba sendo mais caro para brasileiros do que o importado né?
Leonardo Valduga –É, a nossa carga tributária, que é muito alta. Temos uma tarifa de transporte exorbitante para distribuir o nosso produto. O Brasil tem dimensões continentais. O frete chega a custar coisa de 15% do total.
Parabéns pela excelente reportagem ! A Marco Luigi é a minha vinícola preferida em Bento Gonçalves , lugar que frequento há mais de 30 anos quando não existia asfalto para descobrir as “preciosidades do vinho” que lá existe . A Marco Luigi não se destaca só pelos EXCELENTES VINHOS , mas tb pelo carinho que seus proprietários e equipe dedicam aos apreciadores de um bom espumante, de um bom vinho . Não ! Não perde para Santa Cruz Della Sierra , Bordeaux , Saint Emilion, Mendoza , Vale do Silício. Quem não conhece vá ! Vale cada centavo ! E além do vinho os pães e as delícias para harmonização são incríveis!
Obrigada por compartilhar a experiência Rosa.