quinta-feira, 21 de novembro de 2024

O santo sfuso de cada dia

 

Todas as quartas-feiras, das 16 às 18 horas, na propriedade Tenuta Bossi, na Toscana, a condessa Donatella Gondi para tudo que estiver fazendo para atender seus clientes da venda direta do vinho. Ela, da mais antiga e nobre família florentina, tem ancestrais que foram embaixadores junto aos Medici, lida com instrumentos e hábitos vintage, enquanto uma fila de pessoas com galõezinhos na mão cresce do lado de fora do galpão da fazenda. Com paciência de um exército, a senhora calça suas luvas e botas, ajusta o dispenser do barril, pesa em balança de muitos séculos, faz as contas e atende de um por um. Sem pressa. Se for pago em dinheiro, será um quarto de hora a menos – se houver troco. Em cartão, vai depender da internet – discada até hoje. Um luxo de atendimento, diga-se!

 

 

Essa é apenas uma das centenas de fazendas na Toscana que vendem o excedente do vinho – cada vinícola tem número limitado para engarrafar – chamado de sfuso, ou vinho de mesa, de todo dia, que permite ao italiano exercer a tradição de sempre comer com uma taça do lado, pois custa bem menos – entre 1,50 a 3,50 euros o litro, dependendo da uva etc. Isso não quer dizer que a produção desse precioso líquido é menos complexa. Trata-se do mesmo produto que é engarrafado, obedecendo a rígidas regras desde a lida com o parreiral até a bebida pronta.

 

 

Não muito distante dali, outro grande produtor recebe o pessoal do galãozinho – com um pouco mais de agilidade, sem o preciosismo da Condessa. É a vinícola Frescobaldi, onde a movimentação é todos os dias em horário comercial. Ao lado do imenso tonel de alumínio, uma butique para degustações e venda dos especiais engarrafados. Esse hábito democratiza a aquisição do vinho num país que não come – e nem vive – sem ele. Importante dizer que turista esperto também pode adotar o galão.

 

 

A Toscana é uma das regiões produtoras mais importantes do mundo. É formada por mais de 60 mil hectares de vinhedos e produz, anualmente, coisa de três milhões de litros – haja galãozinho – entre brancos, roses e tintos. Quem torce o nariz para o sfuso não sabe o que está perdendo em qualidade e, principalmente, preço.

 

Este post foi escrito por: Anna Paula Guerra

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4 comentários em "O santo sfuso de cada dia"

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