sábado, 7 de setembro de 2024

Passagem iluminada pelo cume da Serra Dourada

 

Marcio Fernandes – Ontem eu subi a Serra Dourada atrás dos tesouros que os bandeirantes deixaram para trás: formações rupestres erodidas há milhões de anos, campos floridos que antecipam a primavera e um pôr do sol único a dominar longas distâncias só avistadas na imensidão do Planalto Central.

 

Eu já conhecia a areia do maciço rochoso pela obra de Goiandira do Couto, mas foi alguma coisa de outro mundo deixar que ela escorresse macia pelos dedos naquela brancura impecável. No solo arenoso que já foi rico em ouro, hoje brotam cristais reluzentes sob o sol escaldante. Um vento fraco traz um pouco de conforto térmico aos 7,5 quilômetros de trilha.

 

 

O percurso propriamente de trekking tem grau baixo de dificuldade, praticamente é em campo aberto em terreno plano. Você anda no platô da Serra Dourada. Comigo estavam os estudantes de cinema Vincent Glen Gielen e Eliana Oliveira. O cara é um ótimo fotógrafo e conhece bem a região, enquanto a Eliana é uma menina inteligente, de personalidade qualificada e que não conhecia o lugar.

 

 

Nós começamos por passagem nas calminhas, mas rápida, por umas formações rupestres. Lá tem a indicação da Pedra Goiana, que na verdade não existe mais, uma vez que foi desmontada em 1965 em um ato de vandalismo de difícil explicação. Existe capacidade de engenharia para restaurar a originalidade do momento natural, no entanto a coisa ainda não aconteceu porque no Brasil é assim mesmo.

 

 

Há duas unidades de conservação e pesquisa no ambiente de cerrado de altitude: o Parque Estadual da Serra Dourada, com 30 mil hectares, criado em 2003, e uma área de 500 hectares de propriedade da Universidade Federal de Goiás (UFG), doada em 1969 pelo governador Otávio Lage. Para entrar é necessário fazer o registro pessoal em posto de controle da UFG e o pagamento de taxa simbólica de 10 reais.

 

 

Há vigilância armada 24 por dia, especialmente para dissuadir a presença de garimpeiros e de raizeiros. Ainda há quem, ilegalmente, garimpe pepitas de ouro na escavação dos barrancos. Já a riqueza da mata de cerrado é um atrativo para coleta predatória do barbatimão, da arnica, da douradinha e da sucupira entre outros.

 

 

De bicho, nós só vimos os rastros de calango e seriema nos caminhos de areia fina e cascalho bruto. Por outro lado, quando a noite caía em céu de meia-lua forrado de estrelas, encontramos um solitário pé de pepalantus que mereceu uma produção de luz refinada do Vincent com minha lanterna de cabeça.

 

 

A Eliana não tirava o olho do relógio, sempre a nos lembrar que depois do areal, a segunda parte da trilha era buscar o pôr do sol que começava a adquirir aquele tom alaranjado no horizonte longínquo. Foram uns 30 minutos de contemplação até que ele sumiu no oeste para dar luz ao extremo oriente e voltar amanhã para renovar o colorido que dá nome à magnífica Serra Dourada. Cada um na sua, descemos a serra de volta para Goiás iluminados pelos últimos raios do sol de um sábado de coração tranquilo.

 

Marcio Fernandes: Texto e Fotografias

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Este post foi escrito por: Marcio Fernandes

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