terça-feira, 22 de outubro de 2024

Passeio pelos detalhes de uma cidade cinzenta

 

Marcio Fernandes – Tudo que te falaram sobre Montevidéu tem um pouco de verdade: o centro da cidade é cinzento e o uruguaio não é de muita conversa, embora extremamente educado. Ela tem alguma coisa de Madrid e buscou nos grandes tempos do começo do século 20 edifícios que lembram Buenos Aires. Há ainda a região de Pocitos, moderna como qualquer outro lugar, e a periferia sem sinal de extrema pobreza que só vi da janela do ônibus.

 

 

Felizmente para quem não está para turistada, existe uma Montevidéu única chamada Cidade Velha. Com 301 anos, o bairro que guarda onde tudo começou na colonização espanhola, é centro cultural da cidade com muitos cafés, livrarias, galerias de arte, feira de antiguidade, loja de roupas descoladas e o maior número de confeitaria por metro quadrado da América Latina.

 

 

O montivediano é também uma figura incomum. O povo parece estar sempre pensativo até para tomar o ônibus. Discretos, eles raramente usam óculos de sol mesmo nos dias de céu azul da primavera; parecem se comunicar unicamente com a cuia de chamarrão que eles carregam no enfrentamento da rotina relativamente calma do lugar.

 

 

Na Cidade Velha eu descobri o costume local em bares e restaurantes de anunciar o menu do dia com frases de autoajuda ou citação literária nas placas com quadro negro escrito a giz. Ao bater perna em direção à melhor posição para fotografar o pôr do sol na orla de 20 km, antes de alcançar as ramblas em desvio do porto, eu tive a sorte de repórter ao me encontrar com Javier Andrada Barrios, 46 anos, em sua oficina de restauração de cadeiras.

 

 

Javier é professor de inglês, pertence à família de renomados juristas uruguaios e na pandemia decidiu transformar em carreira profissional o hobbie de carpinteiro a que se dedica desde os 19 anos. Na oficina, há entre 50 a 100 cadeiras, a mais antiga data de 1907, mas o cara me conta que sempre restaura peças do século 19. Em tom meio sarcástico, Javier me diz não entender a percepção de insegurança pública do montevidiano.

 

 

De fato, não há o menor sinal de violência na cidade e mesmo a numerosa população de rua não causa nenhuma ameaça. Para se ter ideia, há um falso alarme sociológico no país por conta a taxa de homicídios estar em 11 ocorrências por 100 mil habitantes, número que o Brasil está longe de alcançar.

 

O tema segurança pública é uma das pautas principais da eleição presidencial marcada para 27 de outubro. Aqui o mandato é de cinco anos, sem reeleição imediata. Ao todo, são 11 partidos na disputa do voto de uma população de 3,7 milhões de habitantes, com 45% concentrados na capital do país.

 

 

De acordo com as três últimas pesquisas divulgadas nesta semana, a Frente Amplio de esquerda pode levar a corrida presidencial no primeiro turno, já que tem uma média de 24 pontos percentuais de frente para Partido Nacional, na segunda posição.

 

 

Nas ruas cinzentas da capital do Uruguai, um detalhe que chama atenção é a cidade ter se colorido com o branco, o azul e o vermelho da campanha de Yamandú Orsi, provavelmente o próximo presidente de um país que possui indicadores sociais e de saneamento de primeiro mundo, mas parece ser pobre como se tivesse a predestinação da América Latina.

Marcio Fernandes: texto e fotografias

Este post foi escrito por: Marcio Fernandes

As opiniões emitidas nos textos dos colaboradores não refletem necessariamente, a opinião da revista eletrônica.

1 comentários em "Passeio pelos detalhes de uma cidade cinzenta"

  • Américo Vasconcelos disse:

    Pois é. O Uruguai pertenceu ao Brasil no passado. Será que se deram bem? Pelos seus comentários sim. Aliás os livros de história são unânimes em afirmar que o Brasil não se fragmentou, unicamente por conta da vinda da família real Portuguesa ao país. Assim nossos imperadores tinham capital político e financeiro para mitigar os movimentos separatistas

Deixe uma resposta