segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Pirenópolis, minha pátria amada

 

Marcio Fernandes — Minha união estável com Pirenópolis (GO) não é antiga como as ruas de pedra da cidade que hoje faz 295 anos de fundação. Já há conhecia de longa data, mas só em 1999 foi decidido que lá seria erguida a casa no campo. 23 anos depois, mudou muito o ambiente desta extraordinária obra da colonização portuguesa. A vigarice da especulação imobiliária em andamento promete o paraíso em empreendimentos espetaculares, quando na verdade estão trabalhando duro para destruir os encantos históricos e ambientais desta cidade Patrimônio Nacional.

 

 

Pirenópolis só é interessante por possuir conjunto arquitetônico único no qual foram construídas as tradições culturais europeia e tropical no meio do nada do grande sertão que era o Brasil-Central. As casas de janelas grandes e coloridas, telhados alongados e baixos, lembram muito a escassa paisagem urbana do Alentejo, sul de Portugal. A cidade, que se prepara para celebrar os 300 anos, precisa anotar no rol das prioridades a repulsa ao crescimento urbano desordenado, desnecessário e danoso.

 

 

 

Com incurável sede de ouro, como tinham os primeiros colonizadores, empresas dos ramos imobiliário e hoteleiro estão construindo ilegalmente em Pirenópolis vários empreendimentos de ocupação compartilhada, chamados timeshare. Trata-se de um modelo americano de habitação turística no qual uma unidade de pouco mais de 40 metros quadrados é fracionada em 52 proprietários. O sujeito compra imaginando que será dono de um apartamento quando ele terá uma semana por ano de uso e uma conta permanente para pagar. Em termos de investimento, o negócio só tem vantagem para quem vende e é uma roubada histórica para o adquirente.

 

 

O timeshare é especialmente prejudicial à saúde de Pirenópolis por causar o rebaixamento imediato da qualidade do produto turístico. Com essa conversa fiada de que vai gerar emprego e renda, o objetivo do timeshare é produzir o turismo de massa. Caso não sejam impedidos, vão encher o bolso de dinheiro e deixar um legado de sérios danos à economia da cidade. Pirenópolis não tem capacidade de equipamento urbano para absorver o turismo de massa e tampouco quer se transformar em um balneário zurrapa.

 

 

Por falta de planejamento do poder público municipal, a cidade já sofre o impacto do fluxo grande de turistas. Vale lembrar os engarrafamentos nos finais de semana, problema de modalidade das grandes cidades que não era para ter cabimento em Pirenópolis. A minha relação fraterna com ela ainda é boa, minha casa não está à venda e espero que assim seja. Mas ela deixará de ser minha pátria amada caso venha se transformar em uma Caldas Novas. Vou morar no Alentejo e morrer de saudades de lá.

 

 

 

Marcio Fernandes é jornalista

Fotos: Marcio Fernandes

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Este post foi escrito por: Marcio Fernandes

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