quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Reflexões sobre o “bicho-gente”

 

Tradições populares do Nordeste brasileiro entram em cena com “Mel Tamarindo”. A obra audiovisual, inédita em todo o Brasil, é uma peça-filme da Cia. Ju Cata-Histórias. Um apanhado de ideias sobre o “bicho-gente”, que são dançadas e encenadas, produzindo reflexões sobre o cotidiano e um mundo de sonhos e desejos. O projeto conta com apoio da Lei Aldir Blanc e a estreia será dia 25 de junho, às 19h, dentro do Festival Misturaí, que acontece na Clandestina Casa Cultural (Av. Universitária, esq. c/ rua 262, St. Universitário). Nesse mesmo dia, o trabalho também terá sua estreia pelo canal do YouTube @ciajucatahistorias e pelo canal do próprio Siba (@MundoSiba), às 20h. Já no dia 26 de junho, às 19h, outra transmissão será feita presencialmente, na Officina Cultural Geppetto (Rua 1013, Quadra 39, Lote 11, 467 – St. Pedro Ludovico), com entrada franca. 

 

Uma equipe formada por dramaturgos, cineastas, bailarinos, artistas de circo e de teatro, músicos e pesquisadores da cultura nordestina criaram um grande coletivo, com o objetivo de colocar em cena as fantasias, personagens e situações inspiradas nas músicas do cantor e compositor Siba Veloso, guitarrista, rabequeiro, mestre de ciranda e de maracatu de baque solto, um dos precursores do movimento manguebeat. As músicas “Só é gente quem se diz”, “Tempo bom rendondin” e “Mel Tamarindo” são as que embalam esse processo e dão vida às cenas criadas pela Cia. Ju Cata-Histórias, que se auto descreve como sendo um grupo de narração, música e teatro. 

 

A idealizadora do projeto, Juliana Mado, é quem discorre sobre os motivos que a fizeram querer trabalhar com as canções de Siba: “suas composições trazem uma poética particular nas letras, com traços de humor e sagacidade, tratando de temas muito contemporâneos, mas também fazendo um mergulho em tradições populares pernambucanas, como o Maracatu Rural, a Ciranda e o Cavalo Marinho. Além disso, as letras transitam entre ideias sobre tempo, a sociedade e o bicho-gente, coisas que resolvemos dançar e encenar justamente pela teatralidade das falas cantadas de Siba.“

 

Celebração da amizade

 

A diretora Izabela Nascente, por sua vez, ressalta que o Maracatu Rural e a dança do Cavalo Marinho, apesar de serem manifestações vibrantes e alegres, surgem de um contexto muito duro, de vida, de condição social dos trabalhadores rurais da Zona da Mata de Pernambuco. Assim, ela explica que em Mel Tamarindo foi feita uma releitura desse contexto, só que voltando o olhar para as grandes cidades, para os trabalhadores urbanos. Além disso, a diretora antecipa que no enredo da peça, o grande transformador das relações é o Senhor Tempo. Uma entidade que tem o poder de reunir e amalgamar as relações. 

 

Um mergulho no Cavalo Marinho e no Maracatu Rural

 

Segundo seus criadores, Mel Tamarindo se baseia nas músicas muito próprias da cultura originária e nas percepções sociais de Siba, e também traz como matriz corporal o Cavalo Marinho, uma dança e folguedo popular de Pernambuco, além do personagem Caboclo de Lança, ou apenas caboco, que pertence ao Maracatu Rural. Para isso, os intérpretes, além de terem a supervisão de Tainá Barreto, que é professora e pesquisadora dessas manifestações, eles também participaram de oficinas com Fábio Soares, que é um bailarino e “caboco” da Zona da Mata Pernambucana.

Ou seja, o trabalho de pesquisa para composição da Peça-Filme Mel Tamarindo demandou um mergulho profundo nas raízes da cultura nordestina e de suas manifestações populares, tanto quanto uma observação minuciosa das críticas sociais presentes na dramaturgia de Romagnoli, nas letras das músicas escolhidas, e na própria experiência humana dos criadores da obra, que celebram a beleza do Brasil profundo e o poder das relações humanas e sociais, da amizade em especial, na transformação de olhares sobre a vida e o outro.

 

Quem quer brincar

Dá a mão ao companheiro

Forma a roda no terreiro

E pode se balançar

 

Quem não dançar

Procure um canto e se escore

Abra o ouvido e decore

Ou grave no celular”

 

(Siba – Mel Tamarindo)

 

Com Ana Paula Mota e Nádia Junqueira

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Este post foi escrito por: Britz Lopes

As opiniões emitidas nos textos dos colaboradores não refletem necessariamente, a opinião da revista eletrônica.

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