sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Shakespeare no Brasil atual

 

Certa vez William Shakespeare disse: “É uma infelicidade da época, que os doidos guiem os cegos”. Considerando a época em que ele disse e os tempos atuais, os loucos já estão guiando os cegos aqui e no mundo. Dias atrás três médicos foram mortos por engano. Simples assim! Três homens na faixa de 50/60 anos, profissionais produtivos, com famílias, sentados em um quiosque tomando cerveja. Homem sentado em quiosques tomando cerveja na Barra da Tijuca é o que mais tem; não é para ser engraçado é para saber como os cariocas vão continuar a conviver com essa barbárie.

 

A imprensa grita aos berros que mataram três homens por engano! As autoridades saem rápidas dando entrevistas dizendo que foi por engano! Quer dizer que se não for por engano, tudo bem? Já disse aqui que faz tempo que perdemos o Rio de Janeiro para bandidagem e agora vou mais longe: o Rio de Janeiro é irrecuperável. Hoje a população de favelados no Rio é de 1.434.975, aproximadamente 12.2% da população vive ou sobrevive em favelas. Estou, com isso, dizendo que todo morador nas favelas é bandido ou marginal?

 

Claro que não, mas o morador das favelas do Rio sofre o mesmo problema da mais nova desgraça mundial. Pergunto: os moradores da faixa de Gaza são todos terroristas? Claro que não, mas como identificá-los? Da mesma forma a polícia carioca não consegue separar quem são os terroristas que matam por engano, dos cidadãos trabalhadores, que por desgraça, moram em favelas. Lembrem, moram nas favelas com suas famílias, mulheres, filhos e filhas e onde são obrigados a conviver com a bandidagem. Mas, se a polícia é obrigada a conviver com regras, os bandidos não tem regras, salvo as da própria sobrevivência. Entenda, se eu moro na favela chamo a polícia e ela não vem, vou no mínimo tentar convier em paz com a bandidagem, rezando para que não toquem nos meus familiares.

 

Considerando ainda que está em vigor uma ordem do Ministro Edson Facchin “regulamentando” a entrada da polícia nas favelas, cujo objetivo, segundo o Ministro, é reduzir a letalidade da polícia. E a letalidade na polícia, nada? De janeiro até agosto deste ano, mais de 100 agentes foram baleados e, entre eles, 44 foram mortos.

 

Gente, nós enquanto sociedade estamos concordando em perder o Rio de Janeiro para a bandidagem. E não se esqueçam que a Bahia está caminhando para o mesmo destino. No primeiro trimestre deste ano, 1.289 seres humanos foram mortos naquele Estado, 14,42 pessoas por dia. Aparentemente sofremos porque o crime é organizado e nossas autoridades não.

 

As prisões brasileiras, e creio que em outros lugares do mundo também, recebem criminosos e os devolvem para a sociedade como criminosos pensantes. Afinal, o cara que passa na prisão seja lá o tempo que for, tem de fazer alguma coisa nas horas em que não está dormindo. Precisa ocupar o tempo disponível. Afinal, como diziam os antigos, “cabeça vazia, oficina do diabo”.

Amigos, a situação do Brasil é terrível. O sistema carcerário é historicamente uma grande vergonha. No momento, existem em torno de 850 mil presos – isso até junho deste ano –; é a maior população carcerária da sua história.

 

O Brasil atual está dividido entre os encarcerados por crimes cometidos e os encarcerados que não cometeram crimes, mas vivem encarcerados dentro dos seus condomínios ou prédios, cercados de grades, seguranças particulares e sendo assaltados nas portas das garagens. Parodiando Shakespeare, por estas bandas, os doidos já estão guiando os cegos.

 

Hiram Souza é empresário, marqueteiro de longa data, aos 80 anos de jornada o que permite ter uma janela holística para o mundo. Com leve humor escreve sobre assuntos ligados à política, comportamento, educação e brasilidade

 

 

Este post foi escrito por: Hiram Souza

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