Só eu me sinto idiota?
Caros amigos de velha data, leitores antigos e novos. Ando me sentindo um perfeito idiota. Talvez tenha sido o tempo todo e não tenha notado, afinal, com o passar do tempo, 80 primaveras ou verões, os fatos vão se perdendo nas brumas que nem de Avalon são. Estou consultando vocês para saber se o sentimento é só meu ou tem mais gente se sentindo como eu? Alguns exemplos da minha perplexidade ou talvez apenas despertando para a realidade.
Lembram do Eduardo Cunha? Outrora poderoso presidente da câmara dos deputados (letras minúsculas porque é como os vejo) e teórico condutor do impeachment da presidentA, propineiro confesso e quase delator, na medida em que a “sugestão” de desistência da ameaça de delação lhe permitiu hoje, estar em casa usando uma confortável tornozeleira eletrônica imagino eu “desligável” ao sabor dos seus interesses momentâneos.
Esse venerável político brasileiro que ao ser condenado a 360 anos de prisão. Prisão de araque! Afinal, o Dr. Eduardo Cunha, como advogado, sabe que a Lei 13.964/2019 não permite que qualquer cidadão brasileiro passe mais que 40 anos no xilindró. Então por que 360 anos de prisão? Imagino que seja só para efeito dos noticiários e também para satisfazer a plebe ignara sedenta por justiça. Se ninguém pode ficar mais de 40 anos na cadeia, por que dar uma pena de 360? Só eu estou me sentindo idiota?
Bem, daí temos o caso do Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Integração Nacional do Governo do presidente recém-eleito, Lula da Silva, que tinha por hábito guardar alguns trocados em um apto na Bahia, à época chamada de “filial particular da Caixa Econômica”, porque tinha em seu interior uma pequena poupança no valor de R$ 51 milhões. Esse benfeitor de si próprio foi ministro, presidente da Caixa Econômica Federal e outros cargos nos governos Lula e Dilma.
Por uma incrível coincidência da vida política nacional em uma investigação à época, o Delegado Marlon Cajado cita o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, como recebedor de R$ 89 milhões de um total de R$ 105 milhões desviados pelo Geddel e seu irmãozinho, o também deputado Lúcio Vieira Lima.
Todos em casa, com uma confortável tornozeleira eletrônica, creio eu, forrada de veludo para não irritar a pele da canela desses respeitáveis cidadãos e, claro, “desligável” sempre que necessário. A pergunta que não quer calar e me tira noites de sono. Só eu estou me sentindo um idiota?
Diferentemente de algumas crenças, no Brasil as coisas nunca acontecem por acaso. Lembram de um famoso governador cuja esposa tinha uma espécie de associação com uma joalheria internacional, uma que a gente, quando não era idiota e conseguia viajar, costumava ver nos melhores aeroportos do mundo, ai, ai ai, não lembro o nome.
Bem, a advogada e esposa do ex-governador Sérgio Cabral costumava manter seus investimentos em pedras preciosas e joias porque podia deixar em casa não havendo necessidade guardar em banco, dizem também que ela e o marido mantinham polpudas contas no exterior, mas deve ser fofoca dessa plebe ignara sedenta de justiça.
Pois bem o ex-governador Cabral foi condenado (segundo a última pesquisa que fiz) a 400 anos de prisão. Como poderíamos chamar essa verdadeira joia da justiça brasileira? Pactuada, calhordice, cachorrada, babaquice ou simplesmente de migalhas para satisfazer a plebe ignara em seu anseio por justiça? Mas o que interessa é que ele está em casa, assim como todos os outros denunciados e condenados. Parece que também foram descondenados.
Em breve nos cinemas: a volta dos que não foram
Honestamente não sei, será que só eu me sinto idiota? Esse Brasil que estamos vivendo já há alguns anos faz com que tenhamos vontade de mudar para Pasárgada, lá o Rei deve ser mais justo. Só para lembrá-los, a frase “Vou-me embora para Pasárgada” apareceu em um poema publicado em um livro datado de 1930 chamado LIBERTINAGEM, acho que tem tudo a ver. Mas me digam, só eu sou?
Hiram Souza é empresário, marketeiro de longa data, aos 80 anos de jornada o que permite ter uma janela holística para o mundo. Com leve humor escreve sobre assuntos ligados à política, comportamento, educação e brasilidade
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