segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Terapias psicodélicas contra a depressão

 

Foi um documentário difundido pela Netflix que incitou Denis, policial de 52 anos e pai de quatro filhos, a experimentar a terapia psicodélica. Com outro voluntário, ele tomou alguns microgramas de LSD, uma droga psicodélica sintetizada há quase 70 anos.

 

Os pacientes do professor Daniele Zullino, responsável pela terapia psicodélica assistida nos Hospitais Universitários de Genebra, não correspondem ao estereótipo típico de um toxicômano. A maior parte deles nunca havia visto psicodélicos antes de serem apresentados, no consultório do médico, a uma cápsula de psilocibina, uma substância derivada de cogumelos, ou a um frasco de LSD.

 

Por um preço que varia de 199 a 445 francos (entre 1.290,00 a 2.886,00 reais), dependendo da dosagem, os voluntários embarcam em uma “viagem” que pode durar até 12 horas. Para Denis, o objetivo é curar uma depressão que já dura décadas.

 

Se o seguro de saúde ainda não cobre o custo dos medicamentos, a promessa que eles carregam faz com que valha a pena gastar esse dinheiro com este paciente. “Se eu nunca mais precisar comprar antidepressivos, o cálculo é fácil de fazer”. Denis vivenciou três experiências psicodélicas no ano passado. Por enquanto, os resultados são impressionantes. “Todos os sintomas da depressão desapareceram”, diz ele. “Reencontrei o gosto pela vida”.

 

Até o final de 2024, os psicodélicos terão sido legalizados ou descriminalizados em 23 países. A Suíça tem uma longa história com essas drogas, já que o LSD foi descoberto na Basileia em 1938. Juntamente com os Estados Unidos, Canadá e Austrália, o país está na vanguarda da terapia e pesquisa psicodélicas no mundo. Desde 2014, os pacientes suíços têm acesso aos psicodélicos para uso compassivo em casos de último recurso. Os Hospitais Universitários de Genebra são, até hoje, os únicos do país a oferecer a segurança de uma experiência psicodélica em uma grande infraestrutura médica.

 

“Os pacientes vêm de toda a Suíça para se tratar aqui”, declara Daniele Zullino. Se a pesquisa é um dos objetivos, a terapia é o objetivo principal da iniciativa. “Somos os primeiros no mundo a oferecer um tratamento legal com psicodélicos fora dos protocolos de pesquisa”, explica ele. Desde 2019, Daniele Zullino e sua equipe trataram 200 pessoas, um recorde na área.

 

Histórias de sucesso

Daniele Zullino presenciou muitas vezes sucessos como o de Denis em pessoas que a terapia tradicional não conseguiu ajudar. “As doenças mentais são causadas por uma rigidez das conexões neuronais, o que dificulta para as pessoas afetadas mudarem sua perspectiva de vida”, explica ele. “Se você está deprimido, não consegue ver o lado positivo das coisas”.

 

Os psicodélicos, um subgrupo de drogas psicoativas, podem alterar o humor, a cognição e as percepções. Ao fazer isso, eles criam conexões no cérebro. O LSD e a psilocibina são os psicodélicos mais conhecidos. Estes são os que foram propostos aos Hospitais Universitários de Genebra. Outros psicodélicos incluem o DMT e a mescalina, assim como o MDMA e a cetamina. São sobretudo acessíveis através de canais menos formais.

 

Divergências entre especialistas

No mundo da psiquiatria, onde não foram descobertas novas drogas e antidepressivos desde a década de 1950, os psicodélicos provocaram uma onda de choque. Com pouco ou nenhum risco de dependência e efeitos colaterais mínimos, os psicodélicos parecem apresentar melhores resultados do que muitos medicamentos psiquiátricos atualmente no mercado. Pelo menos quando administrados em um ambiente apropriado.

 

Esse elemento é essencial para Laura Tocmacov, cofundadora da Psychedelos, uma associação de pacientes sediada em Genebra. “Cerca de um terço dos pacientes que se dirigem à associação após terem sido submetidos a uma terapia com psicodélicos não sentiram nenhum efeito terapêutico ou até mesmo sofreram um trauma adicional”, constata ela.

 

Para essa ex-paciente, isso não se deve à droga em si, mas às condições em que ela foi tomada. “Alguns pacientes foram deixados sozinhos durante “viagens malssucedidas, o que criou muita ansiedade”, indica ela. “Outros foram tratados por um terapeuta não qualificado que não conseguiu criar uma atmosfera reconfortante”.

 

A questão do ambiente propício à experiência psicodélica divide os especialistas. Para Laura Tocmacov, todos os terapeutas deveriam experimentar os psicodélicos antes de administrá-los. Mas para Daniele Zullino, essa experiência não é necessária. “Um ginecologista precisa ser mulher?”, pergunta.

 

 

Com: Swissinfo.ch

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Este post foi escrito por: Britz Lopes

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