sábado, 7 de setembro de 2024

Todos os dias são especiais

 

Uma rica e verídica história que remonta o início do século XX. Nascida em meados do século XX, Duca foi uma criança esperta, criada e educada como ditava as regras das tradicionais famílias mineiras. Cresceu cercada de luxo e carinho.  Tornou-se uma jovem muito bela! Alta, traços finos, elegante! Usava roupas bem cortadas, cabelo engomado, salto alto, rouge, batom, perfumes de finas notas, sapatos, cintos e bolsas; tudo combinando. Uma moça bem estilosa!

 

Duca era uma jovem de vanguarda.  Gostava de estar sempre muito bem arrumada para ir ao trabalho e para sair.  Ao contrário das moças da época, ela não se casou nova. Trabalhou e namorou bastante, até se apaixonar perdidamente.  Já mais madura, agora era Dona Duca. Enfim quis se casar.

 

A família não aprovou muito aquele romance, pois os pombinhos pertenciam a classes sociais diferentes, sem contar que o “Adonis escolhido” era mais jovem do que ela. Algo inaceitável para os padrões da época. Apesar dos desgostos, um fino e rico enxoval foi preparado para o casamento. Duca levou um baú cheio de panos de prato, paninhos engomados,  forros de mesa, toalhas  e lençóis de puro linho. Tudo bordado à mão!

 

Dentre todas as finas peças do baú, uma era especial. Toda rebordada manualmente com fios finos como a seda; pérolas e matizes dourados.  Símbolo de luxo e requinte, até para os dias atuais. Quase uma joia! Dona Duca era cuidadosa com a casa. Costumava receber a família e os amigos com mesa posta e as mais finas iguarias, servidas em autênticas louças de porcelana inglesa. Mas aquela peça continuava guardada, cuidadosamente envolta em papéis de seda. Permaneceu intacta no baú original, sempre à espera daquela  ocasião especial. Nascimento de filhos, batizados, aniversários, formaturas, casamentos, será que nenhuma ocasião era digna da tal peça?

 

Com quase um século de vida! Agora Dona Duca era uma velha sem botox, ainda à espera do dia especial. O rico guardado continuava a esperar no baú. Ela adoeceu, cercada de cuidados e carinhos, até que chegasse o dia marcado, ela faleceu.

 

Ao organizar os pertences da mãe, sua filha resolveu não esperar mais; é hoje que vou usar a luxuosa colcha da mamãe. Katita, cheia de suspense, correu em direção ao baú do enxoval. Ao abrir a embalagem, que triste decepção! A rica colcha de piquet,  quase uma joia de família,  havia virado farelo, carcomida pelo tempo, só restava o bordado de cima. Katita, minha amiga, valeu a lição!

 

Você hoje é mestre em não trancafiar nada. A cada encontro você nos ensina que ocasião especial é hoje, a hora é agora. Você sim. Usa tudo que tem, sem esperar nenhuma ocasião especial.

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Este post foi escrito por: Noemi Almeida

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