sábado, 7 de setembro de 2024

Transformadores descem dos postes e viram arte

 

Obras de arte inusitadas ocupam espaços públicos em Goiânia até o dia 28 de julho. É a intervenção urbana Transformadores do Amanhã, da artista visual Bruna Brom. Ela usou transformadores de energia verdadeiros para alertar a população sobre a importância das boas práticas no dia-dia para o uso consciente e eficiência da energia elétrica. 

Os quatro temas das instalações dizem respeito aos riscos causados por pipas nas redes elétricas; os cuidados e a necessidade da poda de árvores correta e responsável; os perigos e os prejuízos do furto de energia, o famoso gato; e o roubo de transformadores e fios de cobre para venda no mercado clandestino, crime comum principalmente no interior do estado. As obras de arte estarão em pontos estratégicos de Goiânia: os parques Vaca Brava (St. Bueno), Bosque dos Buritis (St. Oeste), Jardim Botânico (St. Pedro Ludovico) e Campininha das Flores (St. Campinas).

 

BBnewsEntrevistaComo foi a concepção dessas obras inusitadas?

Bruna – Os transformadores estão na vida de todo mundo, viraram paisagem urbana, mas são quase invisíveis. Tirá-los do seu contexto e da sua função e aproximá-los das pessoas foi muito instigante e inspirador. Então, a ideia de torná-los mais próximo e tátil foi natural.

 

BBnewsEntrevista – Qual foi o maior desafio?

Bruna – Foram muitos. O primeiro foi o espaço pra receber peças tão grandes e pesadas. Precisei adaptar meu ateliê na casa da minha irmã, pois foi o único local onde couberam. Mover as peças também foi um desafio à parte. Mas acredito que o maior desafio foi desenvolver temas muito distintos, ainda que todos se conectem no sentido de conscientização. Fazendo minha pesquisa cheguei à conclusão de que apenas pintura não teria o resultado ideal. Então fui pesquisar sobre tapeçaria, tecidos, fios e resolvi incorporar essa técnica às obras. Por ser uma prática que não tenho pleno domínio foi muito trabalhoso. Tive muitas mãos e pessoas maravilhosas me ajudando a chegar ao resultado que eu desejava. Parece simples fazer uma mera pipa de tecido, até você começar a fazer uma. Tudo dá muito errado antes de dar certo. Pelo menos eu já tinha consciência disso e estava tranquila de que era um processo natural da criação. Em toda a minha carreira sempre faço coisas pela primeira vez. É muito tentador e inspirador e isso me move.

 

BBnewsEntrevista – Usar transformadores para passar uma mensagem em forma de arte também transforma quem faz?

Bruna – Sem dúvida alguma! Foram tantas horas em contato com essas peças que são tão “insignificantes” para a maioria. Ouvi de um amigo que lidera esse projeto que “ninguém lembra que transformadores existem até ficar sem energia”. Descrição mais real impossível. E isso me transporta para a reflexão do quanto a correria do dia-dia nos deixa insensíveis pelas coisas boas que temos na nossa vida. Ter energia é ter dignidade e qualidade de vida, o que parece ser algo sem valor, mas deveria ser reconhecido, bem como todas as demais coisas que fazem nossa vida ser melhor.

 

 

BBnewsEntrevista – O que você levou em consideração para realizar cada uma das intervenções?

Bruna – Nós tínhamos mensagens específicas para cada peça. Foi o fio condutor para pensar em como traduzir isso em arte. As peças são cheias de paletas e isso era um detalhe relevante, já que não se tratava de uma superfície lisa que podemos explorar de forma mais livre. Então, a forma de cada transformador foi determinante para escolher qual seria o tema de cada um. O transformador com o tema “Poda”, apesar de ser o menor de todos, tinha áreas interessantes que poderiam receber aplicação de tapeçaria pra fazer alusão ao verde da vegetação. O “Vítima” é a estrutura menos conhecida e mais ‘diferentão’ e também tinha mais área para receber pintura. O “Gato” foi envolvido em uma verdadeira gambiarra com tecidos, fios, fios de energia etc. E o “Pipa” era a maior estrutura que serviu de base para receber uma escultura de pipas de tecido. Engraçado que depois de definir cada um, realmente eu senti a personalidade de cada tema em seu transformador, coisa de artista emocionado. As ações de uma única pessoa podem afetar muita gente.

 

BBnewsEntrevista – Como foi possível usar a arte para representar essa premissa?

Bruna – Isso mexeu muito comigo, eu pensei muito sobre isso. Não sabia, por exemplo, que ao fazer um gato, além de o indivíduo correr o risco de ser eletrocutado, ele sobrecarrega a rede e encarece a energia de todas as pessoas da região. Então, é uma ação que, além de perigosa, pode causar muitos transtornos a todos. Nesse aspecto, a arte vem para fazer uma conexão com esses assuntos e dar ao indivíduo a oportunidade de refletir também sobre isso, sem que pareça uma ofensa ou acusação. Com certeza, ninguém faz algo ilegal por achar correto e quanto mais se discute sobre esses assuntos, melhor chegaremos a resultados adequados.

 

BBnewsEntrevista – Arte e sustentabilidade, qual a relação?

Bruna – A arte reflete o seu tempo, tanto que podemos estudar vários períodos históricos através de obras de grandes artistas. A sustentabilidade é o tema necessário da nossa geração. Precisamos de medidas e políticas públicas, iniciativas privadas e sociais em prol de uma relação voltada à redução dos danos causados ao ambiente. Nesse aspecto, a energia é um tema urgente e necessário. Portanto, a arte tem a função de dar luz a esse assunto e, ao mesmo tempo, fazer o registro histórico para as futuras gerações.

 

Entrevista concedida à Lila Nascimento

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Este post foi escrito por: Britz Lopes

As opiniões emitidas nos textos dos colaboradores não refletem necessariamente, a opinião da revista eletrônica.

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