Três alternativas: por quê não, por quê não, por quê não?
Eu tinha um cliente importante, presidente de uma multinacional, poderoso.
Era um cara até que legal, pero vacilante. Tá bom, não era tão legal assim, mas era vacilante.
Pra tudo ele queria 3 alternativas. Por definição e a priori, fosse o que fosse, tudo tinha que ser apresentado com 3 alternativas.
Mal sabia ele que, de cara, essa exigência já reprimia os neuro-hormônios da equipe, nosso tesão de criar.
Não nos preocupávamos em pensar e criar: tínhamos só que cumprir tabela de opções, 3 opções. Quem saía perdendo, sempre, era ele, o cliente vacilante.
Comentava-se que ele teria nascido em Santa Rita do Passa Quatro, mas fugira logo depois pra Três Corações.
Seu livro de cabeceira era a obra-prima Os Três Mosqueteiros, cuja leitura dividia com Os Três Porquinhos, colecionava LP’s do Trio Iraquitã, não perdia um filme dos Três Patetas, torcia pra qualquer tricolor e achava que o Brasil nunca precisaria ser Tetra-Campeão: Tri já estava bom.
Pra nós, era um inferno. Nosso trabalho criativo virava um extenso exercício de progressão geométrica aleatória.
Cabalisticamente, uma opção de anúncio acabava tendo 3 opções de título que, por sua vez, tinha 3 opções de condução de texto cada, 3 opções de layout cada, 3 opções de ângulos do produto, 3 opções de bocejos durante a reunião.
E assim foi, assim foi, assim foi, assim foi por algum tempo.
Chegou o primeiro grande dia: apresentação da campanha anual para toda a linha de produtos. Estavam lá toda a Diretoria do Cliente, mais de 15 executivos de todos os níveis, mais outros tantos da McCann.
Pacientemente eu fui apresentando, apresentando e apresentando, tudo em triplicata, 3 alternativas disso, 3 alternativas daquilo, tudo com 3 variações do mesmo tema e mais 3 variações de 3 outros temas, 3 várias campanhas pra vários diferentes produtos, diferentes meios, diferentes cenários de ação.
E o cliente sempre me perguntando: “Tem 3 alternativas?”
Coffee break depois de mais de 3 hora de reunião (claro), todo mundo se levanta, estica as pernas, espreguiça, relaxa.
Triplamente feliz com o andamento da apresentação, o cliente segura todo mundo na sala e, animado, pede pra platéia: “Ah, eu tenho uma piada nova pra vocês!”
Eu nem deixo ele começar: “Não! Eu quero ouvir 3 piadas de você. Depois escolho de qual vou rir …”
A reunião acabou aí. Minha trajetória com esse cliente também acabou aí, em três tempos.
Ainda bem que a McCann me ofereceu 3 opções de trabalho, eu escolhi uma e anos depois virei Gerente Geral da operação toda da agência. Pra esse cliente, passei a atuar apenas nos bastidores, sem aparecer.
Imagem: Kindel Media