segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Um cavalo de luz na bruma de poeira dos Pireneus

 

Marcio Fernandes – Definitivamente, este julho tem sido diferenciado no critério frio à noite em Pirenópolis. No cerrado de altitude do Brasil Central é normal haver amplitude térmica acentuada na estação seca, mas este ano está bom demais da conta! Pode fazer sol de rachar que a noite vai ter queda boa de temperatura, inclusive com frio genuíno! Depende! A conta é de duas a três cobertas no quarto de cima do Beco do Sapo.

 

Ontem houve na cidade uma mostra do que vai ser do Festival Saga Jazz! Há muito tempo que não via o Bororó! O cara está cada vez melhor e certamente é um dos maiores contrabaixistas da música brasileira. Só cara bom fazendo espetáculo de música instrumental. Na plateia de pé, em volta do coreto horroroso da cidade, muita gente descolada de todas idades com o propósito de ouvir música qualificada e o cara do sax fez a diferença.

 

Como é bacana este ambiente hippie de Pirenópolis! Já está na terceira geração desde que o pessoal chegou aqui bem no começo dos anos 1970. Tem hippie de bengala a senhoritas vestidas de Joan Baez! É um dos estilos de vida da cidade e faz bem pra todo mundo que gosta de se sentir assim. Depois, me encontrei com Marilda, colega de Colégio Objetivo da turma de 1977. Morremos de rir do nosso tempo de hippie, sob observação de Dona Nancy com cara de nunca ter sido hiponga! Uai!

 

 

Hoje tive encontro também com a Eliane Lage. Está com 95 anos e continua muito linda! Atriz talentosa e consagrada no Festival de Berlim em 1953, Eliane contou sua história incrível no livro Ilhas, Veredas e Buritis, lançado em 2005. Ela vive no centro histórico há muito tempo, leva uma vida simples e sempre oferece aquela elegância orgânica.

 

Eliane ganhou da vida fortuna, sucesso, beleza incomensurável e Paris como terra natal. Decidiu que o melhor era a reclusão no que já foi um casario histórico isolado do ciclo do ouro do século 18 no interior de Goiás e não tem celular. Ela e Elyse conversaram um pouco em francês, disse que Gravatá estava louco para encontrá-la, depois Eliane seguiu sozinha para o almoço. Ficamos de nos ver novamente, pedi a ela para dar um beijo e acabamos em beijos e abraços!

 

Hoje o céu foi tomado subitamente de nuvens volumosas e imaginei que seria o ideal buscá-las no alto do Morro do Frota, em altitude de 1,038 metros. Elas já tinham ido embora, pois houve atraso na saída do pessoal. É uma trilha bate e volta de 10 km desde a Ponte de Madeira por estrada vicinal, com ganho positivo de 284 metros. Foi super positivo ter errado o caminho, pois passamos por trilha no cerrado, longe de carro. Houve certa insegurança do pessoal sobre o rumo tomado, mas eu sabia onde estava o mirante pela posição do sol.

 

 

Do alto do Morro do Frota você tem visão completa do adensamento urbano irresponsável de Pirenópolis. Cada um faz o que quer e a cidade está se expandindo sem se perguntar se há água para todo mundo. Estão fazendo um monte condomínios meia-água em uma das duas zonas de captação do recurso hídrico para abastecimento de Pirenópolis. Não precisa chegar em setembro, auge da seca, para faltar água na cidade. Você abre a porta da esperança à especulação imobiliária e depois se pergunta como é que faz pra inventar água!

 

Estou com problemas sérios de manejo do fone de ouvido sem fio. Alguma coisa está falhando e isso não é nada bom. Claro que o problema é meu, mesmo assim voltei por segurança ao fone com fio na subida do Morro do Frota. A obsolescência programada do meu celular chegou para ficar. Hoje no sensacional pôr do sol, a câmera inventou cores com não estavam no ambiente fotografado.

 

 

Já tem um tempo que a câmera cismou de ler todo céu com aquele azul Bolsonaro! Está na hora de comprar outro celular! Sei que o bicho é imprescindível, mas tenho pavor de entrar em loja de companhia telefônica. Mesmo assim fui premiado com a fotografia da noite antes um pouquinho de chegar em casa.

 

Um cavalo branco de carroça se banhava de luz no poste do centro histórico, enquanto bruma da poeira que sobe do cerrado seco fazia um efeito fantasma na lanterna inclinada. Era a imagem de que eu precisava para escrever, depois de tomar banho grande e abrir vinho da Rioja.

 

Texto e fotografias: Marcio Fernandes

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Este post foi escrito por: Marcio Fernandes

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3 comentários em "Um cavalo de luz na bruma de poeira dos Pireneus"

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