Um país avesso à lógica
Hiram Souza — Prezados leitores, a cada dois anos, no mês de outubro, sofro um ataque de iracúndia e logo depois, nos últimos dias desse mesmo mês, tenho um outro ataque, só que de decepção. O pior é que não tem remédio ou médico que conserte essa situação. Nesse mês de outubro de 2024 tivemos eleições para vereadores e prefeitos.
O Brasil elegeu 60.311 vereadores e prefeitos em 5.570 municípios. De acordo com estudos os quais não consegui descobrir a fonte, 85% desses municípios não se sustentam e recebem, mensalmente, aportes por repasses da União.
Em outras palavras, são sustentados pelo seu, pelo meu, pelo nosso dinheiro, obtido através de impostos escorchantes. Daí fica a pergunta: em benefício de quem? Tivemos nossos ouvidos entupidos com propostas estúpidas de candidatos sem a mínima noção do que seja o cargo de vereador! Teve gente propondo revogar leis federais, construir de pontes entre estados e outras pérolas do anedotário popular das quais vou poupá-los. Mas que é uma estupidez, não tenham dúvida.
A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 188, de 2019, propõe que municípios que não comprovem sua sustentabilidade financeira sejam incorporados a municípios limítrofes, proposta absolutamente coerente e lógica. Ocorre que, caso a PEC188 fosse aprovada, como ficariam os 5.570 prefeitos e seus vices? Sem falar de boa parte dos 60.311 vereadores! Não é lógico, aliás pior, não é justo com a sociedade pagadora de impostos, mas a ótima PEC 188 dorme nas gavetas do Congresso.
Como 2026 está vindo aí e teremos eleições para presidente, senadores deputados federais e estaduais, começo a me preocupar com o tamanho da conta a ser apresentada. Honestamente a nossa democracia, que ultimamente tem apresentado um grande número de defensores, está ficando estupidamente cara para os padrões salariais brasileiros.
Por favor, vamos deixar claro: não sou contra a democracia! Sou contra o custo que ela representa para a sociedade. Temos 29 partidos políticos registrados no STE (Superior Tribunal Eleitoral) e mais 75 na fila de espera. Um absurdo completo. Seguramente com seis partidos todas as tendências estariam representadas, mas o Fundo Partidário para 2024 foi de 1.17 bilhão, o que atrai gente de todos os tipos. Inclusive pessoas que se propõe a montar partidos para tentar abocanhar um pedaço desse gigantesco botim.
Notem que ninguém é contra, seja o Congresso, Judiciário, Governo, estados e municípios; todos acham esse absurdo coerente. Por quê? Porque em momento de eleições municipais, os candidatos e prefeito precisaram do governador e logo ali, em 2026, os candidatos e governador precisarão dos prefeitos que ajudaram a eleger agora. Simples assim, um troca-troca que beneficia todos os envolvidos. Menos a sociedade pagadora de impostos, é claro!