A água e a educação no Brasil
Talvez por instinto, sempre me senti próxima da natureza, nutrindo o sentimento de conexão e reverência. Ainda criança, me apossei de uma Olympus Trip do meu pai e comecei a registrar, além de pessoas, os espetáculos do pôr e nascer do sol, entre outros cenários cinematográficos que ela, a nossa Mãe Natureza, nos oferece diariamente.
Na idade adulta, me profissionalizei em artes visuais e comecei a pesquisar sobre o meio-ambiente que nos cerca e tudo nos dá. Descobri um mundo novo com peculiaridades intrigantes, curiosas e maravilhosas. Mas também tive acesso a informações estarrecedoras sobre a situação atual em que os nossos ambientes naturais se encontram; em especial o Cerrado, o Sistema Biogeográfico mais antigo da história recente do planeta Terra, considerado como o “Berço das Águas” do Brasil.
Falando em água, encontrei durante as pesquisas o grego Tales de Milleto, nascido por volta de 600 a. C., matemático, engenheiro, astrônomo e considerado por Aristóteles como o primeiro filósofo da Grécia Ocidental, que aprofundou suas pesquisas sobre a água e afirmou: “A água é o princípio de todas as coisas”.
Na sequência cheguei a Leonardo da Vinci, que viveu no século XV, e entre as inúmeras atividades que sua mente criativa se dedicou, também focou suas pesquisas na relação entre homem e meio-ambiente e afirmou que “A Terra vive e tem uma alma: os rios são suas artérias, os regatos são as veias (…)” e associava a relação de dependência dos rios com a Terra e as veias com o corpo humano. Um precisa do outro e todos estão inseridos no mesmo sistema. Grande Da Vinci.
Indo a fundo em busca de conhecimento e respostas às inúmeras indagações que foram surgindo, encontrei o professor Altair Sales, estudioso há mais de 50 anos desse sistema biogeográfico tão importante para o Brasil e conhecido por muitos como o “cientista do Cerrado”.
Com ele tenho aprendido muito e um dos alertas mais urgentes que ele pontua é sobre a substituição da vegetação do Cerrado, (que tem a peculiar característica de irrigar os aquíferos sob o seu solo), por vegetações que não têm a capacidade de fazer o mesmo, o que tem resultado em uma drástica diminuição das águas subterrâneas desses aquíferos num ritmo galopante.
Chegamos ao ponto: águas subterrâneas. Diga-se de passagem, tema escolhido pela ONU para celebrar o Dia Mundial da Água 2022.
Nota: Apesar de o Brasil ter o maior volume de água subterrânea do planeta, essa matéria não consta em nenhuma fase do ensino brasileiro. Nossos estudantes, os futuros orquestradores do cenário político, social e ambiental brasileiro, não têm conhecimento de nossas riquezas minerais e hídricas, não sabem de onde vem a água de sua torneira e nem do poço do seu quintal. Segundo alguns se aventuram em explicar, é pelo fato dessas informações serem de caráter sigiloso…
Pergunta que não quer calar: sigiloso para quem?
No momento em que o mundo vive crises hídricas preocupantes, países ricos vem buscando segurança alimentar e há muito estão plantando alimentos para humanos e animais em países ricos em água, como o Brasil por exemplo. Degradam nossos solos, infectam nossos rios além de diminuírem de forma agressiva o fluxo de água, e muitos rios chegam até a se extinguir, levam toda a produção para seus países e deixam para nós “aquele abraço”.
Será que as poderosas corporações mundiais já não sabem dessas “informações sigilosas”?
Conversando com professores especialistas em água e no Cerrado, como a professora Rosângela Corrêa, UnB, o professor Ricardo Hirata, USP, Luciana Cordeiro, UNICAMP, entre outros, soube que eles descobriram, através de pesquisas, que os livros didáticos adotados pelo nosso ensino não contém informações imprescindíveis como essas e muitas outras sobre as peculiaridades dos nossos Sistemas Biogeográficos, como a de que o Cerrado possui a maior biodiversidade do planeta, os saberes dos povos tradicionais que tanto já nos ensinaram e as degradações que essas matrizes ambientais vêm sofrendo colocando tudo isso em risco.
Pergunta para os leitores: Qual o motivo de tanta destruição do meio ambiente, o qual nos supre com o líquido vital para nossa existência?
Mas falando de falta de informação, nós também pudemos constatar quanta “desinformação” existe no ensino brasileiro quando percorremos várias cidades exibindo o documentário “As águas que Brotam do Cerrado”, que produzimos recentemente: nenhuma das pessoas presentes nas exibições, de variadas faixas etárias, sabiam da existência dos aquíferos sob os solos do Cerrado. Só para efeito de informação, os aquíferos Urucuia e Bambuí são responsáveis pela alimentação de importantes bacias e sub-bacias hidrográficas do Brasil, como as do Parnaíba, Rio Doce, Jequitinhonha, São Francisco… e muitas outras.
Será que os herdeiros do Brasil estão sendo preparados para assumir esse país?
Há muito o que questionar sobre a falta de conhecimentos.
Há muito o que rever sobre nossos conceitos.
Há muito o que discutir sobre nossa EDUCAÇÃO!
Vamos mudar isso?
Acredito que seja um enorme defeito na maioria dos seres humanos: desvalorizar o que tem.
Agradeço a Deus por pessoas como você, que, de uma forma muito especial, nos apresenta belezas naturais, que muitas das vezes nos passam despercebidas.
Parabens guerreira
Quem sabe com um trabalho como vcs estão fazendo , abram os olhos das pessoas que cuidem de onde vivem !!!! Parabéns 👏👏
Obrigada por manifestar querida