domingo, 8 de dezembro de 2024

A água e a educação no Brasil

 

Talvez por instinto, sempre me senti próxima da natureza, nutrindo o sentimento de conexão e reverência. Ainda criança, me apossei de uma Olympus Trip do meu pai e comecei a registrar, além de pessoas, os espetáculos do pôr e nascer do sol, entre outros cenários cinematográficos que ela, a nossa Mãe Natureza, nos oferece diariamente.

 

Na idade adulta, me profissionalizei em artes visuais e comecei a pesquisar sobre o meio-ambiente que nos cerca e tudo nos dá. Descobri um mundo novo com peculiaridades intrigantes, curiosas e maravilhosas. Mas também tive acesso a informações estarrecedoras sobre a situação atual em que os nossos ambientes naturais se encontram; em especial o Cerrado, o Sistema Biogeográfico mais antigo da história recente do planeta Terra, considerado como o “Berço das Águas” do Brasil.

 

Falando em água, encontrei durante as pesquisas o grego Tales de Milleto, nascido por volta de 600 a. C., matemático, engenheiro, astrônomo e considerado por Aristóteles como o primeiro filósofo da Grécia Ocidental, que aprofundou suas pesquisas sobre a água e afirmou: “A água é o princípio de todas as coisas”.

 

Na sequência cheguei a Leonardo da Vinci, que viveu no século XV, e entre as inúmeras atividades que sua mente criativa se dedicou, também focou suas pesquisas na relação entre homem e meio-ambiente e afirmou que “A Terra vive e tem uma alma: os rios são suas artérias, os regatos são as veias (…)” e associava a relação de dependência dos rios com a Terra e as veias com o corpo humano. Um precisa do outro e todos estão inseridos no mesmo sistema. Grande Da Vinci.

 

Indo a fundo em busca de conhecimento e respostas às inúmeras indagações que foram surgindo, encontrei o professor Altair Sales, estudioso há mais de 50 anos desse sistema biogeográfico tão importante para o Brasil e conhecido por muitos como o “cientista do Cerrado”.

 

Com ele tenho aprendido muito e um dos alertas mais urgentes que ele pontua é sobre a substituição da vegetação do Cerrado, (que tem a peculiar característica de irrigar os aquíferos sob o seu solo), por vegetações que não têm a capacidade de fazer o mesmo, o que tem resultado em uma drástica diminuição das águas subterrâneas desses aquíferos num ritmo galopante.

 

Chegamos ao ponto: águas subterrâneas. Diga-se de passagem, tema escolhido pela ONU para celebrar o Dia Mundial da Água 2022.

 

Nota: Apesar de o Brasil ter o maior volume de água subterrânea do planeta, essa matéria não consta em nenhuma fase do ensino brasileiro. Nossos estudantes, os futuros orquestradores do cenário político, social e ambiental brasileiro, não têm conhecimento de nossas riquezas minerais e hídricas, não sabem de onde vem a água de sua torneira e nem do poço do seu quintal. Segundo alguns se aventuram em explicar, é pelo fato dessas informações serem de caráter sigiloso…

 

Pergunta que não quer calar: sigiloso para quem?

 

No momento em que o mundo vive crises hídricas preocupantes, países ricos vem buscando segurança alimentar e há muito estão plantando alimentos para humanos e animais em países ricos em água, como o Brasil por exemplo. Degradam nossos solos, infectam nossos rios além de diminuírem de forma agressiva o fluxo de água, e muitos rios chegam até a se extinguir, levam toda a produção para seus países e deixam para nós “aquele abraço”.

 

Será que as poderosas corporações mundiais já não sabem dessas “informações sigilosas”?

 

Conversando com professores especialistas em água e no Cerrado, como a professora Rosângela Corrêa, UnB, o professor Ricardo Hirata, USP, Luciana Cordeiro, UNICAMP, entre outros, soube que eles descobriram, através de pesquisas, que os livros didáticos adotados pelo nosso ensino não contém informações imprescindíveis como essas e muitas outras sobre as peculiaridades dos nossos Sistemas Biogeográficos, como a de que o Cerrado possui a maior biodiversidade do planeta, os saberes dos povos tradicionais que tanto já nos ensinaram e as degradações que essas matrizes ambientais vêm sofrendo colocando tudo isso em risco.

 

Pergunta para os leitores: Qual o motivo de tanta destruição do meio ambiente, o qual nos supre com o líquido vital para nossa existência?

 

Mas falando de falta de informação, nós também pudemos constatar quanta “desinformação” existe no ensino brasileiro quando percorremos várias cidades exibindo o documentário “As águas que Brotam do Cerrado”, que produzimos recentemente: nenhuma das pessoas presentes nas exibições, de variadas faixas etárias, sabiam da existência dos aquíferos sob os solos do Cerrado. Só para efeito de informação, os aquíferos Urucuia e Bambuí são responsáveis pela alimentação de importantes bacias e sub-bacias hidrográficas do Brasil, como as do Parnaíba, Rio Doce, Jequitinhonha, São Francisco… e muitas outras.

 

Será que os herdeiros do Brasil estão sendo preparados para assumir esse país?

Há muito o que questionar sobre a falta de conhecimentos.

Há muito o que rever sobre nossos conceitos.

Há muito o que discutir sobre nossa EDUCAÇÃO!

Vamos mudar isso?

 

 

 

Este post foi escrito por: Eliane de Castro

As opiniões emitidas nos textos dos colaboradores não refletem necessariamente, a opinião da revista eletrônica.

3 comentários em "A água e a educação no Brasil"

  • Edson Martins Vieira disse:

    Acredito que seja um enorme defeito na maioria dos seres humanos: desvalorizar o que tem.
    Agradeço a Deus por pessoas como você, que, de uma forma muito especial, nos apresenta belezas naturais, que muitas das vezes nos passam despercebidas.
    Parabens guerreira

  • Mary celen rezende disse:

    Quem sabe com um trabalho como vcs estão fazendo , abram os olhos das pessoas que cuidem de onde vivem !!!! Parabéns 👏👏

Deixe uma resposta