sexta-feira, 26 de julho de 2024

A celebração do fracasso artístico

 

Uma visita a museus como o Louvre, em Paris, Reina Sofia, em Madri, ou Rijksmuseum, em Amsterdam, é exercício para apurar o gosto, alimentar a alma e se envolver na história dos artistas que executaram cada uma daquelas obras de arte. Mas e quando o lugar se chama Museu da Arte Ruim? É a proposta do Moba, sigla do Museum of Bad Art, localizado no porão de um teatro em Somerville, Massachusetts, Estados Unidos.

 

 

O local tem hoje em sua coleção permanente mais de 800 peças de “arte muito ruim para ser ignorada”, o lema do museu. A história começou em 1994, quando Scott Wilson, dono de antiquário, achou, entre duas latas de lixo na cidade de Boston, a obra Lucy in the Field with Flowers (foto acima).

 

No início ele estava interessado apenas na moldura, mas mostrou o quadro ao um amigo, Jerry Reilly, que o expôs em sua casa e começou e encorajar outras pessoas a encontrarem trabalhos igualmente “adoráveis”. Um tempo depois era fundado o Moba.

 

 

Eu mesma fiz algo parecido. Há coisa de um ano, chegando em casa após longa caminhada, vi uma tela de um palhaço triste jogada no lixo do prédio vizinho; estava sem moldura, mas resgatei assim mesmo e a batizei Depressão Circense. Tentei decifrar a assinatura para saber o autor, mas até a letra era muito ruim. Ainda está comigo – talvez um dia o envie para os amigos Jerry e Scott.

 

Mas meu palhaço triste não chega aos pés do primeiro quadro do acervo do Moba, considerado a pior tela do museu. Para serem incluídas na coleção, as obras devem ser originais, ter sérias intenções, e também falhas significativas sem serem chatas; kitsch. Os fundadores do local explicam que estão celebrando o direito de um artista “fracassar gloriosamente”. Procede!

 

 

Em 1996, duas obras foram roubadas do Moba e atraiu a atenção da mídia. Uma delas, a pintura Eileen, foi adquirida do lixo por Wilson e apresentava um rasgo na tela, onde alguém a cortou com uma faca antes mesmo que o museu a adquirisse, “adicionando um elemento de drama a um trabalho já poderoso”.

 

 

O museu ofereceu uma recompensa de US$ 6,50 pelo retorno e, embora os doadores do Moba tenham aumentado essa recompensa para US$ 36,73, o trabalho não apareceu. Dez anos depois do roubo, o museu foi contatado pelo suposto ladrão exigindo um resgate de US$ 5.000,00.

 

O resgate não foi pago, mas a bad art foi devolvida mesmo assim. O museu tem entrada gratuita, recebe cerca de 700 visitas mensais e vive de vender lembrancinhas, de doações e do trabalho de seus valentes fundadores.

 

 

 

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Este post foi escrito por: Britz Lopes

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1 comentários em "A celebração do fracasso artístico"

  • Avatar Mary celen rezende disse:

    Adorei o resgate , só podia ser vc! Que bom saber das coisas tão divertidas contada pela britz… 👏👏👏👏👏

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