sábado, 27 de julho de 2024

A conquista da Montanha das Bruxas

 

Marcio Fernandes – O domingo acordou bem nublado em Ponte de Lima, mas não choveu como esperado. Teria sido a roubada da roubada. Palavra que Heloísa traduziu para Good for you!, em inglês. Na cabeceira da ponte romana do Século I, grupo musical folclórico do Minho fazia apresentação para nos recepcionar. Mentira, claro! Espetáculo de música, dança e roupas típicas. Já estávamos do outro lado do rio quando percebemos a falta do carimbo na credencial. Demos um jeito e começamos a jornada.

 

Os primeiros seis quilômetros foram em solo macio e plano. Consegui água de beber farta e boa em fonte pública. Bateu saudade da Dona Sônia, minha professora amável da oitava série ginasial. Viajei longe nesta.

 

Ao sair de Arcozelo havia o primeiro santuário para depositar pedra. Desta vez, deixei para certo desapontamento. A decepção agora passou e tem residência definitiva bem próxima da Ponte da Geira, lugar muito bacana, mas pode fazer frio à noite. Recomendo aquisição de agasalho. Saí leve ouvindo Adeus Você, de Los Hermanos.

 

 

Em seguida atravessamos vasto vinhedo. Molly previu que daquele fruto em crescimento sairia um grande vinho Alvarinho. Professor Joveny, hoje tomei primeira taça de vinho verde. Obrigado pela dica e buen camino!

 

Paramos no último ponto de abastecimento de víveres antes da escalada da Montanha da Labruja. A proprietária da birosca estava de mau humor fora do comum. Cismei e me recusei a fazer xixi no local. Logo apareceu o Dr. Paul, que se juntou ao grupo ontem, e me deu de presente uma concha diferenciada do Caminho de Santiago. Obrigado Paul por ser tão gentil e entender tudo de vinho!

 

 

A subida da Labruja é o trecho mais extenuante do Caminho Português Central. Estamos falando de uma extensão de cinco quilômetros, com ganho de altitude de 350 metros. Estou muito bem, pois fazer trekking de montanha está longe ser minha especialidade. Logo após o início da escalada, havia cachoeira ao lado da trilha e decidi dar um tempo por lá para apreciar o barulho das águas cristalinas a combater a rigidez das rochas. É só visual mesmo. Não entro em água fria nem para ganhar dinheiro.

 

 

Molly me falou que tinha dois anjos da guarda e prometeu depois contar umas histórias. Já Heloísa é mesmo abençoada. Suas bolhas deram uma piorada. Ela mal conseguia andar, mas manteve o moral em alta e se recusou a desistir. Este texto está sendo escrito em homenagem a esta mulher vencedora!

 

Hoje eu decidi ficar sozinho a maior parte do tempo. Às vezes percebia presença de figuras estranhas a me espiar de maneira oculta. Naná, acho que eram suas amigas sacerdotisas celtas habitantes das florestas europeias.

 

O penúltimo e o mais acentuado trecho da subida da Labruja é marcado pela Cruz dos Franceses. Tem este nome porque representa derrota das tropas de Napoleão Bonaparte em batalha nas redondezas. Foi convertido em santuário. Deixei lá pedra para minha mãe e poema do espanhol Antonio Machado, doado pelo Juan. Está em espanhol, mas acho que isso não será problema, pois onde ela está deve ter tradução automática de qualquer idioma.

 

 

Chegamos em Aqualonga depois de 17,6 quilômetros de caminhada e mais de sete horas de trilha. Sobrevivemos e estamos instalados em Quinta, cujo quarto e sala dá para fazer um albergue só pelo tamanho da área. Merecemos!

 

 

Preciso mandar um positivo para um pessoal do coração. O primeiro vai para Marcelão. Cara, vou me virar e levar uma mochila super qualificada para você. Quero mandar um positivo para Lara. Querida, muito bom voltar a falar contigo! Por fim, um positivo para Inácio. Amigo, não há plano para fazer livro de viagem. Se mudar de ideia, você será um dos primeiros a saber.

 

Marcio Fernandes é jornalista.

 

 

A música de hoje é Ah, Se Eu Vou com Roberta Sá!

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Este post foi escrito por: Marcio Fernandes

As opiniões emitidas nos textos dos colaboradores não refletem necessariamente, a opinião da revista eletrônica.

8 comentários em "A conquista da Montanha das Bruxas"

  • Avatar Heliane Fernandes Moreira disse:

    Primeiramente quero saber das dicas pra fazer este caminho, meu avô português Silvério veio do Minho, depois acho que a reflexão fará parte de tudo, vou chorar muitoooo , deve ser está a lição, ficar calada quase uma impossibilitada..e uma mudança, na verdade a gente deve se preparar, eu já estou começando, gratidão Márcio, minha humilde sugestão, faça um livro 🙌

  • Marcelo Melo Marcelo Melo disse:

    Ser da turma do coração, receber um positivo de um grande amigo irmão agregam demais nessa. Ser lembrado dessa forma é uma das maiores honrarias por mim já recebida. Obrigado meu amigo!

  • Avatar Noemy Faria disse:

    É muito bom acompanhar este roteiro tão sofrido, tão íntimo etão bem explicitado. Parabéns, Marcinho!
    Te amo❤️

  • Avatar Heloísa disse:

    Parabéns, é como fazer o caminho junto com você, um dia eu vou também!

  • Avatar Márcio de Abreu disse:

    Parabéns xará, muito bom.

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