sexta-feira, 26 de julho de 2024

A ética de Cláudio Abramo e as imagens que não são fotos no Dia Mundial da Fotografia

 

Marcio Fernandes — Há coisas que não mudam, não importa a época em que se propagam. Uma delas é a Psicose Artística, patologia mental grave que afeta os indivíduos que simulam algum tipo de talento apenas para aparecer e angariar fama.

 

 

Quando eu tinha uns 16 anos, já estudante universitário, havia umas figuras que praticamente a cada encontro na porta do belíssimo e recém-restaurado Teatro Goiânia, no Governo Irapuan, mudavam de talento.

 

 

Uma vez era teatrólogo, na outra cineasta, em terceira oportunidade poeta, com estágio nas artes plásticas, ou estava ocupado na produção de um trabalho com o Caetano. Qual Caetano? Ué, o Veloso é claro!

 

 

O cantor e compositor fez um único show naquela ocasião e jurou no palco que nunca mais voltaria a Goiânia. De fato ficou mais de 20 anos sem aparecer por lá, prenhe de razão. Como produção é uma forma de generalidade, a figura estava de alguma maneira envolvida com o Caetano, ainda que fosse para picar couve.

 

 

Quando já havia passado por todos os estágios da atividade artística, o cara virava fotógrafo. Era o máximo da carreira. O equipamento fotográfico naquela época era todo mecânico, muito difícil de ser manejado e caríssimo. O Brasil era uma economia fechada e atrasada. Até calça Lee era importada. Mas o cara era fotógrafo assim mesmo.

 

 

Havia até os trajes que diferenciavam os portadores de Psicose Artística. Era um vestuário meio hippie, lindíssimo por sinal, com as meninas vestidas de Estagiária do Calcanhar Sujo, personagem de Nelson Rodrigues, e os camaradas de bata indiana e blue jeans semanas sem lavar. Eu mesmo me vestia assim, mas não era artista.

 

 

Hoje o padrão se repete com muito mais opção de criatividade fenomenal. A internet, para o bem e para o mal, criou um território livre no qual cada um pode revelar múltiplos talentos no que se chama multiculturalismo. São as mesmas figuras de antes como escritores sem livro, dramaturgos sem peças teatrais, cineastas sem filme etc.

 

 

A novidade é justamente a fotografia. Se nos Anos 1970 o sujeito não precisava mostrar as fotos para ser fotógrafo, agora ele é fotógrafo com imagens. Todo mundo produz alguma coisa e publica sem o menor pudor nestas redes sociais como se fosse fotógrafo de fato e de direito.

 

 

A internet também abriu espaço para a disseminação de jornalistas. Hoje todo mundo é jornalista e, para desespero da nação, com texto publicado. Eu nunca entendi qual é a desse pessoal. Jornalismo tem nada de arte. É uma profissão de muita ralação, como um operário em construção. Aliás, desde o início, sou discípulo do Claudio Abramo que dizia que a ética do jornalista é a mesma do carpinteiro.

 

 

Eu tive a honra de trabalhar com grandes fotógrafos e por isso me excluo de dizer que sou um deles em respeito ao pessoal. Aprendi muito com Hélio Nunes, Luiz Gravatá, Ailton Lima, Antônio Carlos Banavita, Carlos Costa, Weimer Carvalho, Mantovani Fernandes, Diomício Gomes, Miltinho Curi, fera de estúdio, e outros tantos que falha a memória. Recentemente fiquei amigo do Juan Pratginestos, que sabe tudo e mais um pouco da matéria.

 

 

 

Hoje é o Dia Mundial da Fotografia. Eu gostaria muito de homenagear estes grandes artistas na figura de Robert Kappa, pra mim o mais fodaço de todos. Kappa cobriu a Guerra Civil Espanhola, a Segunda-Guerra, o primeiro conflito árabe-israelense e a Guerra da Indochina, que depois seria o pesadelo americano no Vietnam. Pessoal, me perdoe pelas imagens ilustrativas da matéria. Infelizmente não tenho mais um de vocês pra trabalhar comigo. Abraço fraterno para os que se foram e os que ainda estão.

Marcio Fernandes é jornalista

 

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Este post foi escrito por: Marcio Fernandes

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8 comentários em "A ética de Cláudio Abramo e as imagens que não são fotos no Dia Mundial da Fotografia"

  • Avatar Noemy Faria disse:

    Excelente matéria, bela homenagem. Da sua lista de fotógrafos parceiros, para mim faltaram o nosso Luiz Bala e o Maeda. Muito saudosismo❤️. Adorei❤️❤️❤️❤️

  • Avatar Gustavo Veiga disse:

    Maravilhoso mais uma vez Márcio!!

  • Avatar MARCIO FERNANDES disse:

    Faltou o Maeda! Me perdoe Maeda! Trabalhei com ele! Que cara humilde e genial! Obrigado meu amor pela lembrança!

  • Avatar Maria Leda17063@gmail.com disse:

    Só sua fã número 1 vc e exemplo de fotojornalista novamente meus parabéns pelo trabalho pela iniciativa de relembra todos !temos vc para relembra essas feras todas !!mais um vez parabéns 🤗🤗

  • Avatar Marcio Fernandes disse:

    Muito obrigado Dona Leda. Sou teu fã número 1.

  • Avatar Luiz Gravatá disse:

    Excelente texto e belissimas fotos, caro Marcio. A primeira foto me lembra a poesia “Toada de Porto Alegre” do grande poeta português José Regio. Nela ele se refere aos cisprestes lembrando *dedos de gigantes enterrados*.
    Linda imagem. Vale a pena assistir à interpretacao do grande Joao Villaret. Está no You Tube
    (…)
    “Lá no craveiro que eu tinha,
    Onde uma cepa cansada
    Mal dava cravos sem vida,
    Nasceu essa acàciazinha
    Que depois foi transplantada
    E cresceu; dom do meu Deus!,
    Aos pés lá da estranha casa
    Do largo do cemitério,
    Frente aos ciprestes que em frente
    Mostram os céus,
    Como dedos apontados
    De gigantes enterrados…”
    (…)

  • Avatar MARCIO FERNANDES disse:

    Muito obrigado, grande Gravatá.

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