sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

A imagem mais linda do mundo quando o sol põe sobre as Dolomitas

 

Marcio Fernandes – Alta Via 1, dia 4 — Meus Deus! Eu poderia ir embora agora desta vida junto com o pôr do sol que joga suas últimas luzes sobre a majestade das Dolomitas não fosse o tanto que ainda tenho de viver nestas montanhas. Do sopé do Monte Pelmo meu coração pouco se importa com o vento gelado que vem do Sul, pois há pelo menos um segundo de mim que vai ficar na eternidade dos mais de 250 milhões de anos da Cordilheira Alpina.

 

Hoje eu estou pleno de tudo que amo e recebo das montanhas um ar de conforto amplo como se estivesse no ventre da mais pura criação. Neste lindo ambiente de picos extremos, eu envio todos os caros sentimentos para os ares distantes em agradecimento aos grandes amores que moram nos meus horizontes.

 

 

Não é hora de avaliar perdas nem de lamentar os enganos. Agora tudo o que me vem são os grandes sonhos que me mantém cada dia mais forte e vivo para superar a montanha que me espera amanhã e nos anos que me restam.

 

Eu demorei muito para perceber o quanto Deus foi generoso comigo até na paciência de esperar para eu venerá-lo. Por outro lado, não tem essa de tempo perdido, pois ele sempre esteve comigo, inclusive nesta sopa que agora me esquenta e na oportunidade de ter encontrado abrigo no Refúgio Venezia, algo praticamente impossível.

 

Hoje na Alta Via 1 o dia foi bem leve e suave. A trilha de sete quilômetros fez o contorno Norte do Monte Pelmo por floresta de coníferas. São pinheiros imponentes que superam os 30 metros de altura. Metade do percurso foi executado em solo argiloso e bem macio. Aconteceram uns trechos lamacentos, mas igualmente aprazíveis. Houve uma pequena variação negativa de altitude de 100 metros. No mais, a trilha toda foi feita na quota de 1.980 metros sob sol confortável.

 

 

Em boa parte do percurso se avistou a face Sul do Monte Civetta, cujo cume atinge 3.220 metros. Amanhã iremos enfrentá-lo e voltar a dormir em barraca, já que não há opção de alojamento. Esta é minha primeira experiência em um refúgio das Dolomitas. Durante o dia aconteceu passagem frenética de montanhistas de várias nacionalidades com mochilas e equipamentos de escalada. Pessoal muito bacana e bem com a vida. Fotografei umas margaridas para Nina, que anda em fase da revolta dos despossuídos.

 

 

Cheguei ao Refúgio Venezia morto de fome e rolou espetáculo de nhoque com ragú e salada de repolho. Tomei uma Fanta laranja e fui tirar um cochilo em quarto minúsculo, mas só meu. No jantar, a italianada confirmou a fama de falar alto e gesticular como se não fosse compreensível e suficiente o tom das vozes. As atendentes do refúgio são muito gentis e prestativas. Fechei o setor de alimentação à noite com melhor sopa de feijão da minha vida. Pena no Planalto Central não haver clima para sopa.

 

 

Logo que o sol derramou seus últimos raios sobre o Monte Antelao, a 3.264 metros de altura, muitos montanhistas deixaram a zona de conforto do sala de jantar para fotografar este espetáculo divino. Escolhi o melhor lugar ao relento para ficar sozinho, mas como sempre acontece apareceu um chato de galocha ouvindo mensagens em alemão de WhatsApp ao meu lado. Fiz aquela cara de antipatia de Melo. O excomungado desconfiou e sumiu do mapa. Ficou só para mim a imagem mais linda do poente sobre as montanhas da minha nova paixão chamada Dolomitas.

 

Texto e fotografias Marcio Fernandes

Este post foi escrito por: Marcio Fernandes

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