A nova marcha da insensatez
A brilhante escritora e historiadora americana Barbara W. Tuchman, detentora de dois prêmios Pulitzer, escreveu um livro sob o título “A marcha da Insensatez: de Troia ao Vietnã”, que se tornou um best-seller mundial. No livro, ela descreve minuciosamente os erros cometidos por diversos dirigentes na gestão dos seus países, que levaram alguns deles à completa ruína, tendo em vista os erros sucessivos, prejudicando muito as suas populações.
Quarenta anos se passaram do lançamento do livro e tenho certeza de que os atuais detentores do poder no Brasil não leram nada dos úteis conselhos de Mrs. Tutchman, sejam eles do executivo, do judiciário ou do legislativo. Aliás, o principal dirigente do País se orgulha em dizer que nunca leu um livro. Ruim para ele, mas muito pior para nós enquanto sociedade que somos administrados por um iletrado confesso.
Como diria um velho chacareiro do meu pai, “Que mar lhe pareça”, a situação do Brasil é de uma insensatez absurda, e ao fazer essa observação quero fugir do figurino da moda de esquerda ou direita de Lula ou Bolsonaro. Gostaria de trazer para discussão e ter opiniões sobre a completa insegurança para onde está sendo conduzida a crença que a sociedade tem, ou tinha, dos seus administradores?
O Congresso tem estado mais interessado em legislar em causa própria, brigando com unhas e dentes pelas vergonhosas emendas pix, fundos eleitorais e reeleições. O executivo se valendo das indicações feitas para o Superior Tribunal Federal para administrar, impondo medidas que nem sempre estão de acordo com a sociedade que o elegeu.
Essa fragilidade do executivo, que cada vez que se sente enfraquecido acaba chamando os seus principais fiadores para apoiá-lo. E esse fato está dando ao STF a posição de julgador e legislador, atropelando, desta forma, os poderes constituídos. Com seus poderes vitaminados pela dívida eleitoral do presidente para com a nossa suprema corte, estamos vendo coisas absurdas ocorrendo ao arrepio da Constituição.
Pergunto: como será que a sociedade enxerga a atitude do ministro Toffoli ao cancelar a multa da empresa sob seu julgamento em processo nos quais sua mulher atuou como advogada e por esse trabalho recebeu honorários de um bilhão de reais? Como será quer aquela turma de “agitadores antidemocratas” que estava em Nova York e ouviu um sonoro “perdeu Mané” diretamente da boca do hoje presidente da corte?
Como será que os antigos usuários do X estão se sentindo? Não quero entrar no aspecto jurídico da questão, até porque o juridiquês, embora se contorcendo, tem sido muito usado. Eu quero abordar a questão do ponto de vista do bom senso, afinal estamos falando de justiça.
Justiça até onde conhecíamos antigamente deveria ser o sinônimo de equilíbrio, ponderação, ou simplesmente justiça. O ministro Alexandre de Moraes vem sistematicamente rasgando o livro que nós apreendemos a chamar de Constituição.
Na minha opinião, muito mais grave do que rasgar a Constituição é esfacelar a confiança que a sociedade tem, ou tinha, na justiça maior do país, que no momento caminha para uma inexorável marcha da insensatez.
Sim! Perdemos a confiança na nossa justiça.