À sombra das geladeiras brancas
Renata Abalém — Em uma dessas peças que a vida nos prega – quem nunca? – ganhei uma geladeira branca de aniversário. Era um aniversário importante, começava ali uma nova década e quando a duplex (que não era uma Brastemp) chegou em casa, senti que tinha entrado na curva decrescente da vida… aquela em que tudo passa a ser um “plus” e que todos nos enxergam como quem nós, definitivamente, não somos.
Meu Deus! Cadê aquele perfume maravilhoso? Aquela jóia assinada? Onde estão as flores? O livro? A geladeira me faz pensar até hoje, depois de mais de duas décadas. E depois de mais de duas décadas, tenho a ccerteza de que a curva na qual me encontro ainda é a crescente e que embora muitos não me enxerguem, eu não me perdi de vista.
Sim, sou hashtag#mãe. E muitas como eu, nessa altura da vida, começamos a nos questionar sobre o sentido de todas as coisas. Nós mulheres estamos em um momento descortinador do nosso destino, pensando mesmo a jornada. Isso está acontecendo no mundo inteiro. Observe! Esse momento é aquele que antecede um grande salto. Muitas de nós, de todas as classes sociais e faixas etárias, começamos a mudar. Talvez seja o derrame de informação mundial – o acesso à informação nos trouxe um poder de pensamento nunca antes experimentado. Por óbvio, dores e angústias também, mas prazeres que estavam anos-luz se colocam a um click de distância.
Geladeiras brancas não fazem mais sentido.
E chegando o segundo domingo de maio, essa reflexão passa a ser importantíssima, afinal, o que se quer é agradar as homenageadas. Mães são pessoas, independente de serem pessoas que geraram outras pessoas – nesse caso, filhos!
Aliado a esse pensamento – de realmente agradar a pessoa e não carimbá-la com um presente que represente somente o papel familiar ou social que ela desempenha, nós brasileiros não podemos deixar de olhar como está nossa economia. Reformas sociais e legislativas às portas, greves sendo ensaiadas e os meninos nas Universidades Federais agora com uma greve sem data para terminar.
Afora tudo isso, um Dilúvio. Um Dilúvio! Isso aqui dentro das nossas fronteiras… calo-me sobre o que está acontecendo mundo afora.
Voltando ao presente das mães, se ainda insistem na geladeira branca, atentem: mães sonham sobre o futuro. Se o seu resto de ano ficar comprometido com a geladeira branca, não a dê de presente. Se a televisão for muito importante, tente comprá-la à vista, pechinche, negocie, faça as contas, mas não se endivide!
Mães esperam que os filhos e a família estejam emocionalmente saudáveis e a saúde financeira de uma casa, seja a mais humilde delas, gera cidadãos mais equilibrados e com um futuro mais promissor.
Isso é muito mais importante para a geração seguinte à nossa do que um eletrodoméstico com prazo de validade sendo reduzido a cada ano (antes uma geladeira durava décadas – agora não dura cinco anos) e com um parcelamento a perder de vista.
Mas, à todas: Feliz dia das mães… sem geladeiras por favor!