segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Arte é investimento e tem poder de transformar

 

 

BBNewsEntrevista — Nei Vargas é diretor da Aura Galeria, em São Paulo, e pesquisador especializado em mapear coleções privadas e consumidores de arte. Fez doutorado em colecionismo particular de arte contemporânea e conseguiu chegar a 83 pessoas em 16 estados brasileiros. Aqui em Goiás, conheceu e entrevistou a empresária Vânia Abrão – grande colecionadora e mecenas, que morreu vítima da Covid-19. Foi ela quem o apresentou à galerista Wanessa Cruz. Atualmente são amigos íntimos que falam a mesma linguagem, a das artes plásticas.

 

Em abril deste ano, Wanessa promoveu um bate-papo sobe arte e investimento como pré-evento da 5ª edição da Fargo – Feira de Arte de Goiás e a maior de negócios em arte do Centro-Oeste, que ocupa o Centro Cultural Oscar Niemeyer de 24 a 28 de maio. Estavam presentes com ela, Karine Terra, Sandro Tôrres, Edoardo Biancheri – dono da Aura Galeria – e Nei Vargas. Com eles, BBNews conversou com exclusividade sobre muitos assuntos que permeiam o complexo universo das artes.

 

ByBritznewsEntrevista – Como se comportou o mercado de arte durante a pandemia e como ele vem se recuperando?

Edoardo – O mercado de São Paulo é muito competitivo e quando veio a pandemia, muitas galerias começaram a fazer coisas que a gente já tinha feito cinco, seis anos antes. Então a gente usou outra estratégia, de gerar conteúdo. Foi aí que o Nei participou muito do movimento da Aura. Fazíamos happy hour com colecionadores de todo o Brasil, trancados em suas casas. Cada um no seu canto falando sobre arte, tomando o seu vinho. Foram momentos de prazer no meio do caos que vivíamos. Quando a gente olha para o que aconteceu durante a pandemia no mundo da arte, foram períodos bons de certo ponto de vista. Tanto lá fora quanto aqui. Isso porque as pessoas não estavam viajando, não saíam de casa e, grosso modo, não tinham com o que gastar dinheiro. Daí começaram a dar valor no que tinham em casa e investir nesse bem estar visual. Na aceleração do normal, ninguém aprecia detidamente o que está na parede.

 

Nei – Exato. As pessoas olharam pra dentro. E todo o universo cultural se beneficiou disso, porque as pessoas passaram a valorizar mais obras de arte e criar vínculos afetivos com elas. Foi um período efervescente no mercado de artes.

 

Wanessa – Nós fizemos a terceira Fargo, que foi muito movimentada virtualmente. A gente ia para os Correios todos os dias despachar obras para o Brasil inteiro. Claro que vendemos obras mais baratas, tipo decorativas, mas vendemos também muita gravura boa com melhor valor agregado. A Fargo teve uma repercussão nacional incrível com a pandemia. Isso porque todo mundo estava on line em encontros e bate-papos. E os artistas não tinham essa expectativa, então foi uma surpresa.

 

ByBritznewsEntrevista – Então a pandemia mudou um pouco o mercado?

Edoardo – Mexeu muito com as compras on line. O mercado já vinha crescendo – 9% das vendas já eram on line. Durante a pandemia foi a 25%. Isso mostra que há uma enorme demanda.

 

Nei – A gente pode pensar nisso como uma herança. A pandemia impulsionou esse hábito, mas já tínhamos informação de obras caras compradas on line.

 

ByBritznewsEntrevista – Quais as dificuldades de quem tem dinheiro e disposição para se tornar um colecionador?

Nei – A prática colecionista é a ponta do gargalo de todo o setor produtivo. Todos trabalham para as coleções. Tem uma dimensão ampla. Então há lacunas. Desde a dificuldade de aquisição das obras, problemas graves no mercado de falsificação, lavagem de dinheiro. Há um segmento ilícito dentro do mercado, como em todos os setores. Outro problema é que no Brasil há muita gente boa produzindo localmente com pouco acesso ao nacional e internacional. A questão do conteúdo; do artista e da obra, da sobrevivência da obra, além das questões fiscais – na verdade, todas as obras precisam ser declaradas. Também enumero a catalogação, que é extremamente importante e começa a crescer no Brasil.

 

ByBritznewsEntrevista – Para ser considerada uma coleção, qual o volume deve ter o acervo?

Nei – Não é só questão quantitativa. É um conjunto de fatores. Depende. Às vezes a pessoa tem 20 obras, tem uma coleção, mas não é colecionadora. Temos de levar em conta o valor da coleção. Há colecionadores que possuem obras incríveis, mas de artistas jovens que não vão expor no Masp tão cedo. Temos de observar como a pessoa passa a atuar na sociedade em razão dessa coleção, o que chamo de sistema da arte. Ela se transforma num player não somente pelo poder de aquisição, mas por participar ativamente do meio. A consagração é quando a pessoa abre o seu próprio museu.

 

ByBritznewsEntrevista – Existe dificuldade de precificar uma obra?

Nei – Muito. É um mercado muito sólido e bem estruturado, mas ainda faltam informações de quem compra, onde está determinada obra. Vai depender do artista, do tamanho, o estado de conservação, o momento do artista. Quando não temos todas essas informações, o melhor é procurar um especialista. A gente fica de olho nos leilões, que são bons indicadores, mas é preciso participar para ver o lance final. Uma coisa eu digo: a pior coisa para um artista é a oscilação drástica do valor da obra.

 

ByBritznewsEntrevista – O comportamento do artista conta nessa precificação?

Nei – Totalmente. A gente tinha uma tendência de defender que a obra de um artista só valorizava se ele tiver vendido bem durante o ano, participado de exposição, exposto na mídia. Mas há uma outra leitura: mesmo que ele não tenha tido esses movimentos importantes, há os reparos no aumento dos insumos etc.

 

Edoardo – Ainda no que se refere a preço, além de te dar prazer, uma obra de arte é um ativo financeiro. Diferente de outros ativos, arte tem sempre de subir, enquanto o mercado convencional oscila. Na teoria, o mercado de arte só cresce. Outra observação é que nada vai abalar um investimento em obra de arte em momentos de crise e inflação alta porque é um ativo real.

 

Sandro Tôrres – O segundo ano de pandemia, 2021, foi excepcional para várias galerias. Nunca se vendeu tanto.  Por que às vezes o mercado é fraco? Porque faltam agentes que estimulam e dão a chancela para um artista; faltam uma academia forte e instituições do gênero. Então, meio que o artista se auto-proclama e isso não se sustenta.

 

Nei – O sistema da arte abriga um conjunto de indivíduos e instituições que vão fazer com que os objetos artísticos sejam rotulados como tal. Muita coisa passou a ser arte e não era. Por exemplo, muitos saíram da chancela do naif e viraram contemporâneos.

 

ByBritznewsEntrevista – O goiano investe em obra de arte?

Nei – Tenho dados empíricos, mas acho que poderia ter muito mais pelo potencial financeiro do Estado. Aqui há muita concentração de renda. Acho que a tendência é melhorar e despertar o público com potencial. Daí é um efeito dominó porque até quem não tem tanto poder aquisitivo vai querer pertencer a esse mundo. A arte tem a capacidade de transformar.

 

 

O que é a Fargo

 

A FARGO- Feira de Arte Goiás, a maior feira de negócios em arte do Centro-Oeste, chega à 5ª edição de 24 e 28 de Maio, nas galerias do MAC GO, no Centro Cultural Oscar Niemeyer. Este ano, 23 expositores e galeristas estarão presentes na feira, como Arte Plena Casa Galeria (GO), Cerrado Galeria de Arte (GO), Aura Galeria (SP), Oca Goyaz Escritório de Arte (GO), Oto Reifschneider Galeria de Arte (DF), entre outros.

 

O formato continua o mesmo, com stands expositores entre galerias, escritórios, coletivos de arte, espaços institucionais e de parceiros de segmentos relacionados. A feira recebe um grupo de artistas, colecionadores, professores, diretores de instituições, arquitetos, designers, galeristas, curadores, jornalistas, influenciadores, estudantes e uma camada da sociedade interessada em colecionismo e cultura em geral.

 

Uma das preocupações da FARGO é que o evento mantenha suas características originais, inclusive o aspecto da acessibilidade e democratização das ações, voltadas para todos os públicos indistintamente. Essa inclusão passa pela percepção e senso de coletividade, premissa nos projetos da Arte Plena, responsável pela produção do evento. A avaliações de acervos e outros serviços contam com a expertise de seus diretores, Wanessa Cruz e Sandro Tôrres.

 

“Além de fomentar as artes, como um todo, a feira também é pensada para contemplar a diversidade e oferecer um variado mix de atrações, como experiência social, transcendendo as artes visuais; além dos espaços de convivência (lounges), DJs e um café”, conta Wanessa.

 

Desde 2017, somando quatro edições anteriores, o evento recebeu presencialmente cerca de 25.000 pessoas e outras 50.000 acessaram o site na versão online desde 2021. A exemplo dos mais importantes eventos de arte nesse formato pelo mundo, a FARGO se insere nesse lugar da responsabilidade com o setor das artes visuais no Estado.

 

Para Sandro Tôrres, a expressiva participação de galerias e representantes de serviços e produtos para produção artística nas quatro primeiras edições fez com que a feira adquirisse o respaldo e a legitimidade junto aos profissionais do setor e também junto ao numeroso público visitante. “A FARGO, desde 2017, passou a ter um papel de importante relevância na consolidação desse ambiente favorável para a produção e os negócios em arte e atua diretamente no incremento dessas relações”, aponta Sandro.

 

SERVIÇO:

5ª FARGO-FEIRA DE ARTE GOIÁS

LOCAL: CENTRO CULTURAL OSCAR NIEMEYER, GOIÂNIA-GO

ABERTURA: 24/MAIO – 19 ÀS 22H – EXCLUSIVO PARA CONVIDADOS

VISITAÇÃO: 25 A 28/MAIO – 14 ÀS 22H – ABERTO A TODOS OS PÚBLICOS

ENTRADA FRANCA PARA TODAS ATIVIDADES.

 

PROGRAMAÇÃO COMPLETA: FARGO / SEMINÁRIO

 

24/05 – QUARTA-FEIRA

19 h- 21h –Abertura –convidados

20h30 – Apresentação parceiros e equipe – Lounge Amaury Menezes

19 h às 22 h – SOM AMBIENTE

 

 

25/05 – QUINTA-FEIRA

14H30 – SEMINÁRIO – Papo sobre curadoria,mercado de arte e espaços independentes

Falas: Andrés Hernandez (CU/SP)/Marcelo Amorim  (GO/SP)

Leitura de 10 portfólios – Auditório Piso 3

15h30 –SEMINÁRIO – Mulheres Gravadoras

Mesa: Célia Gondo, Doris Pereira, Filomena Gouvêa, Suely Lima

Mediadora Cinara Barbosa (DF)- Lounge Amaury Menezes

16 h – SEMINÁRIO – Os desafios da publicação cultural

Mesa: Márcia Deretti (RS/GO) /Márcio Jr (GO) / Ana Luiza Chafir (RJ)/ Marcelo Solá (GO)/ Larissa Mundim (GO)/ Joaquim Oliveira (GO) – Auditório Piso 3

Mediador – Jotape (GO)

17 h – LANÇAMENTO Catálogo “Uma possível poética da fuleragem”, Camila Soato (GO) – MMarte

18h – LANÇAMENTOLivros Caixa Box – MMarte

19 h – DJ JONAS HENRIQUE

19 h – SEMINÁRIO – Arte & Mercado de Luxo, Flávio Lima (GO) – Lounge Amaury Menezes

 

26/05 – SEXTA-FEIRA

10 h – FARGO VISITA – SERTÃO NEGRO – Ateliê Sertão Negro

15h – SEMINÁRIO– Fotografia de arte

Falas: Azol (RN/SP)/ Flávio Lima (GO)/ Gabriela Toledo (RJ)– Lounge Amaury Menezes

16h – SEMINÁRIO – Xingu 57: memórias de meu avô, do íntimo ao público

Fala: Oto Reifschneider (DF) – Auditório Piso 3

16 h – LANÇAMENTOLivro “Arquivo, Museu, Contemporâneo”, Suely Lima (GO) – Lounge Amaury Menezes

17h – SEMINÁRIO– Arte, sistema e circuito / Curadoria e Territorialidades

Falas: Cinara Barbosa(DF)/ Melissa Alves (RJ)– Auditório Piso 3

18 h – LANÇAMENTO Livros Grafisch Hidrolands (GO)– Stand Grafisch

18 h – DJ BRUNA MENDEZ

19 h – LANÇAMENTO SELECT/CELESTE –Panorama do Cerrado /Paula Azulgaray (SP) –  MMarte

20 h – PERFORMANCE – “Te Escuto”, Geórgia Cynara (GO) – Galeria Cleber Gouvêa

 

 

27/05 – SÁBADO

10 h – FARGO VISITA – Exposição Siron Franco/Café da Manhã / Cerrado Galeria

14h30 – SEMINÁRIO– Sistemas elásticos de criação/ Cena artística independente

Mesa:Gilson Plano (GO/RJ)/ André Venzon (RS)/ LucasDupin(MG)

Mediador: Adriano Braga (GO) -Auditório Piso 3

15 h30 – LANÇAMENTO Livro “A parte pelo todo”, Lucas Dupin (MG) – Lounge Amaury Menezes

16 h – LANÇAMENTOLivro “O Sequestrador de Almas”, Dalton Paula (GO) – MMarte

16 h – SEMINÁRIO– Formação de público de arte e colecionismo

Falas: Ademar Brito (RJ), Nei Vargas (RS/SP)

Mediador:Sandro Tôrres (GO) – Auditório Piso 3

17 h – HOMENAGEMAmaury Menezes – Lounge Amaury Menezes

18 h – SEMINÁRIO– Design Ativista / Produção atual

Mesa: Jotape (GO)/Evandro Prado (MS/SP)/ Joaquim Henrique (GO)

Mediador: Gustavo Skavarone (GO) – Auditório Piso 3

18 h – DJ ADEMAR BRITO

 

28/05 – DOMINGO

16 – LANÇAMENTO Livro “O Burlador”, Matheus Hofsttater – MMarte

17 h – REVELAÇÃOPrêmio Destaque FARGO 23 – Lounge Amaury Menezes

 

18h – POCKET SHOW – Gleiton Nunes – TOM SILVA

19 h – DJ MAURÍCIO MOTA

 

Este post foi escrito por: Britz Lopes

As opiniões emitidas nos textos dos colaboradores não refletem necessariamente, a opinião da revista eletrônica.

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